quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Minha queridíssima amiga Magda levou-me o seguinte texto pra sairmos da mesmisse/merdinisse, rs... Thanks a lot, Magda!!!

Descalços em Berlim

Nova moda da Alemanha é andar sem sapatos
CIBELE B.COSTA
DE BERLIM

Foi depois de praticar uma escalada descalço com um amigo nos arredores de Berlim, em 2005, que o reflexologista Johannes Kathol, 48, deu-se conta do filão. "Os pés não foram feitos para acessórios. Os sapatos os apertam e restringem seus movimentos", explica. Pronto: estava criado o movimento contra a discriminação dos desprovidos de calçados, que se batizaram como Barfuß-Initiative Berlin-Brandenburg (Iniciativa dos Pés-Descalços de Berlim-Brandenburgo).
A partir daí, John (apelido de Johannes) se juntou ao amigo Conrad Ulrich --um motorista de táxi que corria escondido sem sapatos pelas florestas há mais de 20 anos-- para criar um site dedicado ao movimento (www.gobib.de), roteiros de caminhadas para os descalços e incentivos à prática de esportes como o vôlei de praia, por exemplo.
Hoje em dia, John não está mais à frente da iniciativa, mas segue um "nudista dos pés". "O movimento foi importante para lutar contra o preconceito aos 'bare footers' (pedestres descalços, em tradução livre). Agora cada um pode falar por si mesmo", diz o terapeuta, que enfatiza a recomendação do Ministério de Saúde alemão às caminhadas sem sapatos a partir dos 10ºC de temperatura.
Quando alguém o critica pela falta de higiene, John indaga: "A sujeira do chão não é maior que a poluição do ar. Por que não repara na poeira que inala diariamente?".
Mas não pense que Berlim aceita seus filhos descalços incondicionalmente. "Em lugares públicos como bares, restaurantes e clubes noturnos, é permitida a nossa circulação. Mas em prédios do governo, museus ou hotéis mais chiques, nos tratam como marginais", desabafa.
Segundo Kathol, o asfalto e as superfícies planas do mundo civilizado não oferecem as condições ideais para os pés, muito sensíveis por conta do uso milenar de calçados. Os iniciantes têm que tomar cuidado para evitar demandas excessivas ao pé virgem. "É importante reparar nos sinais do corpo para evitar o estresse físico."
Ele recomenda o uso alternado de sandálias com bons amortecedores até os pés se acostumarem.
Os perigos causados por cacos de vidro ou xixi e cocô de animais não o preocupam. "Berlim é muito limpa. Todos os dias, a cidade recolhe o lixo do equivalente a 4.000 km de ruas, calçadas e outras áreas, o que corresponde a quase duas vezes a distância daqui até Madri. Já pisei em coisas que machucam ou dão nojo, mas só no começo. Depois, desenvolvi um certo 'sexto sentido' de onde poderia pisar", arrisca.
No final da conversa, John me mostra suas solas encardidas. "Vou trabalhar todos os dias sem sapatos. Só uso quando está abaixo de 6ºC", afirma ele, que ainda guarda seis pares de sapatos em casa.

LIBERDADE

A produtora de eventos Patjuli Groß, nascida em Chemnitz, uma cidadezinha a leste da Alemanha, mudou-se para Berlim em 2009. Para conviver bem com a cidade que a acolheu, virou adepta da moda dos descalços. "Queria sentir a cidade como ela verdadeiramente é, sem nada que nos separe. Há solos que são rígidos, sem rodeios, ásperos, quentes, mas há também os frios, delicados, suaves. A sensação é incrível; me sinto livre e pura", explica ela, que, a partir daí, não parou mais de andar descalça: ia ao mercado, ao trabalho, levava o cachorro para passear.
Hoje, Patjuli está gravidíssima de oito meses do namorado, o produtor de cinema Nils Sauttercom, um não descalço. "Meus pés ficaram muito sensíveis por causa da gravidez. Agora, de vez em quando, coloco sapatos", conta a alemã de 30 anos. Também por isso aguarda ansiosamente a chegada do bebê, para retomar a prática. "Meu corpo me diz que está sentindo falta desse contato com o solo."
O filósofo, escritor e estudioso da lógica na língua alemã Tilo Kaiser se considera "um pensador livre". Suas grandes paixões são dançar e fazer caminhadas descalço. "Não tem coisa mais incrível que andar com os pés nus no mato. E adoro dançar com os pés no chão. Por incrível que pareça, o solo de um clube noturno não é sujo, dá até para deitar nele", declara o berlinense de 45 anos.
Ele tem duas filhas, Yeshe e Yasodaja, de quatro e um ano e meio, e espera que as filhas adotem seu estilo de andar. "Quero que elas aprendam desde já a delícia da liberdade dos pés", afirma. Tilo frequenta descalço as multidões dos eventos musicais da cidade. Sua balada preferida é a Ritter Butzke, em Kreuzberg, na região central da cidade.
Já Saskia Baumgart, musicoterapeuta de 31 anos, é uma adepta "moderada" do movimento dos descalços. Ela se solta no trabalho. "Ter os pés livres aumenta minha capacidade de empatia com o próximo. E isso se reflete na relação com os pacientes, que também eliminam os sapatos no meu estúdio", conta ela. "No final das sessões, eles sempre me agradecem e dizem que é como 'sair de uma gaiola'", sorri.
A berlinense ressalta que apesar de a cidade ser celeiro de movimentos libertários, ainda existe discriminação. "Esse não é um hábito aceito por toda a população."
No final da conversa, Saskia confessa que acha um martírio sair para comprar sapatos: "Pés me interessam muito mais".

http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/966322-nova-moda-da-alemanha-e-andar-sem-sapatos.shtml acesso em 27/10/2011.

Abraço com pés descalços paulistas, rs...
Marcos. 

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