domingo, 2 de dezembro de 2012

NADINE LABAKI+ET MAINTENANT ON VA OÙ?

O produzir pequenas fissuras em círculos viciosos: E agora, aonde vamos?



Recomendo o novo longa-metragem de Nadine Labaki (18/02/1974), diretora libanesa de cinema: E agora, aonde vamos? (Et maintenant on va où?, França, 2011, 110min) é seu segunda longa – Nadine é a mesma diretora do elogiado Caramelo (2008). Uma vez que sou atravessado pela formação de Letras (Espanhol/Português), frequentemente, reflito sobre a tradução dos títulos de filmes. Dito de outro modo: para mim, a tradução em português desse filme é muito determinada, ou seja, há claramente um sujeito nela, o sujeito NÓS expresso por meio da forma verbal “vamos” (mesmo que os gramáticos digam que o sujeito é oculto – até pode ser oculto, porém, facilmente determinado e identificado por qualquer falante que domine a norma culta da língua portuguesa); enquanto que em francês o ON geralmente marca uma indeterminação, produz uma espécie de generalização o que, a meu ver, relaciona-se de forma coesa e coerente com o que Nadine reflete em seu novo filme. Portanto, de minha perspectiva, uma possível tradução para o título desse longa seria: E agora aonde se vai? ou E agora aonde a gente vai? (não sei se títulos assim seriam comerciais; mas, possivelmente, materializariam um pouco mais o que Labaki pretende dizer...). Essa indeterminação é fulcral porque reflete sobre e/ou aponta em direção a uma espécie de círculo vicioso que começa a ocorrer em uma pequena aldeia no Líbano – que poderia tranquilamente, talvez, ser uma metáfora dos conflitos existentes em diversos países orientais e, arrisco-me: por que não ocidentais também – entre muçulmanos e católicos.
Havia assistido ao delicioso Caramelo (2008) e, de meu ponto de vista, o cinema de Nadine Labaki desenvolve uma preocupação pelo coletivo onde ela transita pelo bom humor e por questões sérias de forma coesa e coerente. O coletivo expressa-se, por um lado, por meio de um grupo de mulheres e, de outro lado, por um grupo de homens: grupos que, às vezes, se cruzam e convivem com alegria e bom humor (por exemplo: a cena em que todos assistem à televisão juntos), como também com brigas, discussões e grandes dores ao irem aos enterros dos jovens mortos/dos homens mortos simplesmente por não pertencerem a um determinado grupo, a uma determinada “facção”. A meu modo de olhar, a preocupação pelo coletivo, pelo todo é uma das características de seu cinema.
No filme E agora, aonde vamos?, percebo haver uma espécie de proposta de solução de como conseguir evitar e/ou diminuir a morte/a perda dos filhos/dos homens das mulheres residentes naquela pequena aldeia. Para tanto, um grupo de mulheres o faz de uma forma brilhante que não relatarei em meu texto porque precisam ir ao cinema para entender o que digo ou alugar o DVD quando houver seu lançamento. Filme para mim, inicialmente, simples; porém que reflete sobre a vida de muitos libaneses, muitos orientais, muitos ocidentais e por que não de muitas mães brasileiras que perdem seus filhos em tiroteios entre traficantes, entre policias e até mesmo por meio de balas perdidas? Vale à pena conferir. Apenas para esclarecer, o filme não é um dramalhão; é um filme “leve” com tons de seriedade e reflexão geniais.
Últimos comentários: Nadine Labaki trabalha no filme como Amale, ou seja, além de talentosa como diretora de cinema e atriz, a meu ver, ela é lindíssima como ser humano e mulher (em todos os sentidos polifônicos possíveis...). Aproveitem, ademais, para prestar atenção na beleza do povo libanês e nas músicas cantadas. Na realidade, Nadine Labaki está desestereotipando uma estereotipia... Esse filme remete-me ao longa-metragem Abril Despedaçado (2001) de Walter Salles; mas é importante dizer que E agora, aonde vamos? é atravessado por uma leveza, uma delicadeza, um bom humor que talvez apenas uma mulher (libanesa) conseguisse fazer (generalização de minha parte? Sim; porém consciente...). Para terminar: esse filme foi indicado  ao Oscar 2012 de melhor filme estrangeiro e foi selecionado para a mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes. Portanto, como sempre digo atravessado por discursividades espanholas: “ESA PELÍCULA... NO SE LA PIERDAN!”

M.Ê.~ç.Á.


Marcos Peter Pinheiro Eça.     
(Novembro de 2012)
    

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