O cinema é a melodia do olhar, Nicholas Ray (cineasta norte-americano, 1911-1979)
Como hoje é dia 25 de dezembro, apesar de não ser dado a avaliações, elaborarei alguns comentários acerca de os filmes, peças de teatros e exposições vistos/assistidos/sentidos/experienciados ao longo de 2011. Aproveitarei, ademais, pra comentar minha experiência no Teatro Oficina ao assistir à peça "Macumba Antropófoga".
Como sou um "minini" do audiovisual - o cinema me atravessa e me constitui como sujeito -, iniciarei meu texto elencando meus filmes prediletos de 2011.
FILMES: O primeiro deles é o delicioso "Meia noite em Paris" de genial/debochado Woody Allen. Seus últimos filmes ("Vicky Cristina Barcelona", "Tudo Pode Dar Certo" e "Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos") me produzem um prazer estético imenso, ou melhor, divirto-me e identifico-me absurdamente com os temas, as imagens e os diálogos propostos por eles. Mas voltemos ao filme "Meia Noite em Paris". Adorei esse filme por revelar/apontar nossa eterna insatisfação em relação aos tempos/momentos em que vivemos. Insatisfação filha da putérrima que se não a trabalharmos nos levará ao abismo... Portanto, dá-lhe ARTE em nossas vã vidinhas, rs...
Além de Woody Allen, destaco o brilhante "Melancolia" de Lars Von Trier. Como escrevi em um texto publicado aqui em meu blog, esse filme me produziu orgasmos audiovisuais, rs... O prológo é de uma genialidade/poeticidade monstruosa; as atrizes Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg e Charlotte Rampling são fabulosas... As cenas de Kirsten Dunst em interação/harmonia/ligação com a natureza são belíssimas, como a cena em que os noivos e os convidados soltam balões com mensagens escritas por eles à noite: GORGEOUS!!! Mas, o mais belo de tudo em "Melancolia" é o fato de Von Trier apontar como estamos doentes - não melancólicos ou depressivos; até poderemos estar, mas... - no mundo e em tempos rotulados como contemporâneos e de que diante de tudo isso o que nos resta é a impossibilidade (como a impossibilidade diante da morte).
E o ano não poderia terminar de forma mais instigante com o FABULOSO "A pele que habito" de meu mestre Pedro Almodóvar. Em seu último longa, trata de como o mundo continua complexo - como dito pela professora de balé interpretada por Geraldine Chaplin no filme "Fale com Ela" - e de que por mais que façamos e sejamos massacrados pela sociedade há algo que sempre se mantém, ou melhor, nossa forma de ser, nossa identidade, nossa subjetividade, sei lá, quiçás, nosso EU... Vivermos em uma sociedade tão cruel como a nossa, e termos um cineasta tão genial como Almodóvar é um grande consolo ao ele conseguir nos retirar da mediocridade cotidiana. Obrigado, Almodóvar!!!
Cinema nacional: adorei "Meus País", "Capitães da Areia", "Além da Estrada", "O Palhaço" e "As Canções". Nenhum desses longas é genial, mas são bons filmes, são corretos, nos emocionam e nos fazem pensar.
PEÇAS DE TEATRO: pude ver algumas, mas a experiência de liberdade e não julgamentos experimentada/experienciada em "Macumba Antropófoga" do Teatro Oficina foi insuperável. Tratarei de relatar o vivido/sentido/experienciado por mim naquele momento. Tenho a plena consciência de que minha memória enganar-me-á, mas... Bom... ao adentrarmos no Teatro, uma corrente de pessoas é feita fazendo com que uma SUPER ENERGIA - não sou dado a religiões, inclusive quero muito acreditar que Deus existe... - circule e comece a nos produzir uma sensação/sentimento de felicidade singular. A música nos embala... Após esse momento primeiro, a corrente formada toma conta das ruas do Bixiga e dançamos/marchamos ao som da FELICIDADE/SERENIDADE proposta por Zé Celso. Ao retornarmos ao Teatro, muita entrega dos atores ocorre até que o público começa a interpretar com os atores do Oficina e há o momento em que somos capturados/convidados a ficarmos todos nus. Experiência de liberdade - ilusão/nostalgia de liberdade, é claro, rs... -, mas simplesmente sensacional... Cereja do bolo: nesse dia, cruzei-me com a brilhante Maria Rita Khel e pude agradecê-la por nos retirarmos da vã mediocridade do dia a dia em seus bons livros; pelo menos é o que ela tenta...
Além da "Macumba", foram ótimas as seguintes peças: Pterodátilos (exercício de dessacralização de nossa podre/fétida sociedade); Justine (revi porque adoro o trabalho de entrega da Andressa Cabral); Oxigênio (texto incrível e interpretação fabulosa de Rodrigo Bolzan); Roberto Zucco (revi porque adoro a montagem da peça e a interpretação de Robson Catalunha e Maria Casadevall); Os Altruístas (peça correta; porém, esperava mais da Mariana Ximenes); Viver sem Tempos Mortos (belíssima interpretação da Fernanda Montenegro, apesar de o texto não ser tão genial) e Conversando com Mamãe (o texto é fraco, mas a interpretação de Beatriz Segall é primorosa). O que destaco do teatro são essas peças.
EXPOSIÇÕES: adorei a obra de Saul Steinberg que pude apreciar na Pinacoteca como no mesmo dia a exposição denominada "Lá e Cá" de Fernando Lemos. Os trabalhos do Olafur Eliasson me provocaram um grande êxtase/ecstasy (rs...). E a exposição na Bienal "Em nome dos artistas" foi brilhante também, havia obras absurdamente desestabilizadoras para mim, como as de Frank Benson.
LEITURAS: li livros/textos muitos técnicos, faltou literatura, boa literatura, mas a vida é feita de escolhas e é impossível fazermos tudo o que queremos.
É isso... um grande abraço a todos,
Marcos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.