SAINDO DE PÁLACIOS DE CRISTAIS...
Bom Retiro: 958 metros do Teatro da Vertigem: vertiginoso... labiríntico...
caracólico... caótico... complexo... organicidade... CAOS+ORDEM+ORDEM+CAOS...
(Teoria da Complexidade+Teoria do Caos)
INFECTEI-ME COM UMA COISA -
significante pensando ilusoriamente conscientemente -: BOM RETIRO: 958 METROS+TEATRO DA VERTIGEM...
Texto parindo...
Texto parido...
Texto naScido...
Ontem, 18 de novembro, tive as
duas maiores experimentações teatrais de minha vã e inútil vidinha:
Experimentação nº 01
Sem detalhes: apenas comprei a
entrada da ópera/peça Lulu de Bob Wilson & CIA
BERLINER para o dia 18/11 porque somente houve quatro apresentações... Apesar
dos pesares+dificuldades de minha parte (começo a cansar-me de determinar à
exaustão: portanto: sem detalhes): fui ao espetáculo com uma amiga (não citarei
seu nome por não ter autorização de expô-la em meu texto; portanto, usarei
apenas um vocativo a fim de dirigir-me a ela: Md. Bécamier...), ou seja, Md.
Bécamier fazia-me companhia na ópera/peça Lulu.
Comentários a respeito de a
primeira parte, dado que tive de ir embora uma vez que no guia de programação
do SESC estava registrado que o espetáculo teria 1h40 minutos de duração e, ao
chegar no SESC PINHEIROS, local onde ocorreria a apresentação, soube que
haveria 1h30deespetáculo+30minutosdeespetáculo+1h00deespetáculo...
[FREAKNESS MINHA: devido ao jogo
mercadológico da Tickets For Fun somente havia conseguido ingressos para rever Bom Retiro: 958 metros do Teatro da
Vertigem nesse dia e às 20h00... em outras palavras: merda total minha
proporcionada por informações incorretas e jogos neoliberais de venda de
ingressos... Mas tudo bem: ontem me senti – apenas me senti – como os críticos
de cinema que vão a festivais e chegam atrasados para verem os filmes, saem
antes de os filmes terminarem e ainda têm de escrever a respeito de estes...
QUANTA PREPOTÊNCIA E ILUSÃO as minhas...]
Acompanhado e muito bem
acompanhado de Md. Bécamier – apesar de seu aparente cansaço devido a uma
viagem de 12 horas que ela havia realizado – deleitei-me com LULU.
Prólogo brilhante: onde predomina
o silêncio/a ausência de sons em uma sociedade onde falam tanto e falam tão
pouco de significativo... especialmente nas vitrines sociais virtuais da
felicidade que se espalham mais do que erva daninha, capim...
RUMINAÇÃO+REGURGITAÇÃO TOTAIS... As vitrines da felicidade me exaurem... Não
sou contra a FELICIDADE; sou contra a venda da vida como uma eterna
FELICIDADE... A vida, para mim, é como um caracol, é como a fita de Moebius
onde há de tudo sem dicotomias: há felicidade(s), há tristeza(s), há fome(s),
há riso(s), há lágrima(s), há sede(s), há beijo(s), há abraço(s), há (des)beijo(s),
há (des)abraço(s)... TUDO AO MESMO TEMPO... Portanto: questiono-me: por que
vender a vida como um momento de felicidade eterna? CONSUMO! GOZO! LÍQUIDO!
TOTAL... DILACERAL...
Precisamos ler Morin...
Precisamos ler Bauman...
Precisamos ler Derrida...
Além de o silêncio/de a ausência
de sons significativos prologamente, há uma brilhante reflexão sobre “lo
feminino”+“lo masculino”+“lo arquetípico” (emprego-me e abuso dessa construção
em espanhol para tentar materializar meu pensamento dado que nesse ao
utilizar-me de um “LO + um substantivo” passo a transitar por um espaço mais
abstrato e mais conceitual... se o Luís Henrique ler esse texto, ele me
entenderá e saberá do que estou falando...) em LULU: há o filósofo, há o bufão, há a fêmea, há o macho, há os
“strangers”... Enfim: LULU é uma
genial reflexão sobre a vida, o mundo atual... e não posso deixar de mencionar:
interpretação impecável da CIA
BERLINER;
figurino impecável da CIA
BERLINER;
TRILHA SONORA GENIAL: INSTRUMENTOS+LOU
REED;
Apenas posso dizer: ser arrancado
da RUMINAÇÃO+REGURGITAÇÃO dos palácios de cristais é um alento a essa vida vã e
medíocre na qual vivemos: VIVE L´ART...
Experimentação nº 02
REINFECTEI-ME COM/DE UMA COISA -
significante REpensando REilusoriamente REconscientemente -: BOM RETIRO: 958 METROS+TEATRO DA
VERTIGEM...
Sai correndo, literalmente
correndo, em direção a meu carro, estacionado a duas quadras do SESC PINHEIROS
a fim de dirigir-me à Oficina Oswald de Andrade de onde sairíamos – estava com
ele: não poderei expô-lo por tampouco ter sua autorização: portanto:
dirigir-me-ei a ele como JUST ELE... – JUST ELE e eu... Trocamos nossas folhas
impressas da Tickets For Fun por nossos ingressos e rumamos a experimentação
teatral mais desestabilizadora de minha vida... nem Bob Wilson conseguiu fazer
isso comigo e estava REvendo o espetáculo/a obra/a peça de teatro/A COISA –
significante que talvez materialize melhor o que tento dizer... na realidade:
predomina em mim uma NOSTALGIA DO REAL (Mito da Caverna+Platão) – designada
como Bom Retiro: 958 metros.
B R I L H A N T E em todos os sentidos: desde o momento em que
chegamos à rua Professor Cesare Lombroso e começamos a esperar pelo começo de A
COISA... Um ser amorfo, vazio, sem vida aproxima-se, senta-se em sua cadeira
com seu radinho de pilha e o ESPETÁCULO iniciar-se-á... o CIRCO está armado...
e muito bem armado... A rádio que acompanha o espetáculo começa a tocar,
anunciar e entregadores começam a surgir para o templo do consumo abrir:
CONSUMIDORES+CONSUMISTAS surgem com suas sacolas pela rua e abrem a porta do
TEMPLO, DA CATEDRAL dos tempos atuais: refiro-me ao SHOPPING CENTER...:
(…)LOMBROSO SHOPPING MALL:ASSOMBROSO SHOPPING MAU.
Adentramos... pouco a pouco,
começamos a tomar conta dos espaços e surge a primeira personagem/UMA MULHER: seu
sonho de consumo é ter o/um vestido vermelho daquele shopping; contudo, quando
chega ao TEMPLO/À CATEDRAL a loja já se encontra fe(I)chada... coitada!
pobrezinha! fica sem conseguir comprar seu vestidinho vermelhinho... Chapeuzinho
Vermelho: Fita Verde no Cabelo já foi
escrita por Guimarães Rosa: total e absoluta perd(C)a das ilusões...
Surge, então, a faxineira negra
(é evidente que somente poderia ser negra): trabalho braçal, faxinal quem o
faz? Negros, pobres, nordestinos: os “excluídos” (não tenho nada contra esse
tipo de serviço: apenas gostaria que tivessem uma vida um pouco mais digna;
apenas isso:
poder pegarem um ônibus e terem
um lugar onde se sentar após horas de trabalho;
poder não trabalharem aos
domingos para ficarem com suas famílias;
poder dormirem e não terem de
trabalhar em lojas abertas 24h00 por dia: especialmente porque o sono do dia
não é como o sono da noite...;
poder terem/comerem arroz,
feijão, carne, frango, peixe: não precisa sem em restaurantes sofisticados como
o Fasano ou o Figueira Rubaya... mas em suas singelas e simples casas...
poder terem acesso à CULTURA:
cinema, teatro, música, parques, diversão...
poder CARPE DIEM: apenas isso e
nada mais do que isso...).
NEGRA que toca em feridas
fulcrais de nossa sociedade... diz: o que acontecerá quando a merda que sai de
suas bundas voltarem para ela? Ou melhor: estou tão cansado de ser tratado como
uma COISA, com tanto DESRESPEITO, como
um amigo STEP (essa, meu
querido, é para você que acha que o mundo gira a seu redor... ilusão a sua, mas
não me intrometerei mais em suas relações freak e nem palpitarei em sua vã
vidinha porque já o fiz exageradamente: a vida é feita de escolhas e você já
fez/já faz/já fará as suas...)...
SURGE o mendigo: é o filósofo da
peça... enuncia as GRANDES verdades dos TEMPOS atuais... ele é um tanto
profético, apocalíptico... A dança quase ao final da peça dedicada à ele e a
pedra tão pequena e que cresce ao longo da peça remete-me ao monolito de a cena
inicial de 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968)
dirigida por Stanley Kubrick. Essa não é a única referência a Kubrick: em uma
cena duas mulheres vestidas com a mesma roupa travam uma luta belíssima
acompanhadas de uma das músicas de Laranja Mecânica: The Thieving Magpie (Abridged) composta por Gioacchino Rossini.
SURGE A NOIVA... noiva
dilacerada... noiva desiludida... noiva perdida... A perc(D)a de AS ESPERANÇAS:
não é à toa que ao final ela se suicida...
SURGE, então, o manequim com
defeito: em seu braço, em seu peito, seu sonho era apenas conseguir um emprego
em uma vitrine... mas por não ser MADE IN KOREA e ser DEFEITUOSA jamais será
incluída: apesar de vivermos em tempos politicamente corretos onde todos devem
ser incluídos: TODAVIA: a Constituição
Federal do Brasil apenas se esqueceu de perceber que a REAL inclusão não é
para todos e que um gesto de tentar incluir os excluídos onde há os incluídos
gera um movimento de maior exclusão: AFIRMO ISSO COM PROPRIEDADE DE SABER:
trabalho em um projeto da prefeitura onde há salas em que há alunos
“regulares”, alunos com necessidades educacionais especiais (os NEEs), alunos
idosos, alunos liberdade assistida (os provenientes de Fundações Casas etc) e o
que percebemos é um gesto de INTOLERÂNCIA, impaciência de todos, isto é, a
inclusão gera mais exclusão do que nunca... especialmente dos educadores que se
sentem tão impotentes, tão insignificantes, tão nada nessa sociedade/nesse
mundo atual... Não estou fugindo do tema da peça porque essa é uma das questões
abordadas: SERMOS TRATADOS COMO NADA, COMO LIXO, COMO MANEQUINS QUE AO FICARMOS
DESGASTADOS SÃO INUTILIZADOS, DESCARTADOS, JOGADOS FORA... Belíssima reflexão e
que dialoga com a sensível animação Robôs
(2005) dirigido por Chris Wedge.
Aos poucos a sociedade vai sendo
desnudada, apunhalada, criticada de forma ELEGANTÉRRIMA... A crítica não é nada
vulgar, nem banal...
As costureiras bolivianas
exploradas dia e noite não poderiam ficar fora de A COISA... Também estão lá...
As cenas em que homens abusam de manequins também estão lá (há uma cena interna
no shopping de “abuso” de um manequim, como uma cena externa de “ato sexual” de
um manequim): COISAS somos tratados como COISAS (generalização de minha parte:
plena total absoluta consciência disso; apesar de ter pessoas próximas a mim
que não me tratam dessa forma e nem tratam as pessoas dessa maneira: tampouco
citarei seus nomes porque não tenho autorização nem o direito a expôs-las no
mundo VIRTUEBA..., mas se lerem esse texto saberão de que família e de que
amigos/as estou me referindo).
LIXO...
LUXO...
DESFILE: crítica à indústria da
moda, à indústria cultural, à industrialização...: à vida de consumo que nos
consome e nos destrói cotidianamente (é claro, os que têm um mínimo de
“consciência” – ilusoriamente – sofrem um pouco menos... talvez seja meu caso,
mas... ainda coloco em xeque essa questão...).
PODRIDÃO... FETITUDE... A SOCIEDADE
VAI SE DESMONTANDO E A CRÍTICA ELEGANTE E SOFISTICADA (MUITO ESTUDO E REFLEXÃO
DO TEATRO DA VERTIGEM) vai se tecendo como os tecidos de as costureiras, as
roupas que as costureiras – fundamentalmente as bolivianas – costuram na região
do Bom Retiro, Brás, Pari... O que me fascinou ao REver essa COISA (espetáculo)
foi o fato de ser domingo e vários pessoas que não haviam comprado ingressos
nos acompanharem pelas ruas – vários bolivianos/as –: questiono-me: como essa
crítica reverberará em seus seres? em suas almas? em suas identidades? em suas
subjetividades? Isso é apenas um questionamento pirotécnico de minha parte, ou
melhor, não é necessário respondermos, é somente para pensarmos...
(re)pensarmos... (des)pensarmos... (in)pensarmos... (trans)persarmos...
FRENTE DE SUA FUTURA SEDE: o
teatro israelita: escadarias: mais crítica elegante e sofisticada a nossa
sociedade.
ADENTRAMOS o teatro em ruínas:
BELÍSSIMO!!!
O sonho de consumo se concretiza
e a mulher se uniformiza... se torna massa... se torna COISA...
Reflexão filosófica: o mendigo...
Somos convidados a subirmos ao
palco: mais crítica por meio da costureira boliviana e falando um espanhol
impecável – eu o digo porque sou graduado em espanhol – é claro que com as
marcas de o Outro, de o Estrangeiro, de o Estranho dado que jamais seremos um
nativo e devemos assumir o lugar do near
native ... Brilhante esse gesto da atriz...
SILÊNCIO: estamos no palco: Mulholland Drive – Cidade dos Sonhos
(2001) de David Lynch.
EVACUEM A ÁREA... EVACUEM A ÁREA...
EVACUEM A ÁREA...
Evacuamos o prédio: caçamba com
os manequins... Esse é nosso final: somos lixo...
Para alguns sim;
Para outros não;
Vive l´art...
Apenas questiono-me: E agora
José, a festa acabou?
Vive l´art...
Viva el arte...
Viva a A R T E ...
Abraço vertiginoso a todos,
Marcos Eça.
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