sexta-feira, 30 de setembro de 2011

NINGUÉM É SUBSTITUÍVEL

Ontem, uma querida amiga e eu interpretamos o texto que segue abaixo em um evento na escola onde trabalhamos. A meu ver, vale a pena reproduzi-lo pra que outras pessoas tenham acesso a ele. Vamos lá...

 
NINGUÉM É SUBSTITUÍVEL



Na sala de reunião de uma multinacional, o diretor nervoso fala com sua equipe de gestores.

Agita as mãos, mostra gráficos e, olhando nos olhos de cada um, ameaça: “Ninguém é insubstituível!”

A frase parece ecoar nas paredes da sala de reunião em meio ao silêncio.

Os gestores se entreolham, alguns abaixam a cabeça. Ninguém ousa falar nada.

De repente, um braço se levanta e o diretor se prepara para triturar o atrevido:

            - Alguma pergunta?

            - Tenho sim. E Beethoven?

            - Como? - o gestor confuso o encara.

            - Senhor diretor, o senhor disse que ninguém é insubstituível... então... quem substitui Beethoven?

Silêncio.

O funcionário fala então:

            - Ouvi essa história esses dias, contada por um profissional que conheço e achei muito pertinente falar sobre isso, afinal, as empresas falam em descobrir talentos, reter talentos, mas, no fundo continuam achando que os profissionais são peças dentro de uma organização e que, quando sai um, é só encontrar outra para colocar no lugar. Então, pergunto: quem substitui Beethoven? Tom Jobim? Ayrton Senna? Ghandi? Frank Sinatra? Garrincha? Santos Dumont? Monteiro Lobato? Elvis Presley? Os Beatles? Jorge Amado? Pelé? Paul Newman? Tiger Woods? Albert Einstein? Picasso? Zico? ...

            O rapaz fez uma pausa e continuou:

            - Todos esses talentos que marcaram a história fazendo o que gostam e o que sabem fazem bem, ou seja, fizeram seu talento brilhar. E, portanto, mostraram que são sim, insubstituíveis. Que cada ser humano tem sua contribuição a dar e seu talento direcionado para alguma coisa. Não estaria na hora dos líderes das organizações reverem seus conceitos e começarem a pensar em como desenvolver o talento de sua equipe, em focar no brilho de seus pontos fortes e não utilizar energia em reparar seus “erros” ou “deficiências”?

            Nova pausa e prosseguiu:

            - Acredito que ninguém se lembra e nem quer saber se BEETHOVEN ERA SURDO, se PICASSO ERA INSTÁVEL, CAYMMI PREGUIÇOSO, KENNEDY EGOCÊNTRICO, ELVIS PARANÓICO... O que queremos é sentir o prazer produzido pelas sinfonias, obras de arte, discursos memoráveis e melodias inesquecíveis, resultado de seus talentos. Mas cabe aos líderes de uma organização mudar o olhar sobre a equipe e voltar seus esforços em descobrir os PONTOS FORTES DE CADA MEMBRO. Fazer brilhar o talento de cada um em prol do sucesso de seu projeto.

            Divagando o assunto, o rapaz continuava.

            - Se um gerente ou coordenador ainda está focado em “melhorar as fraquezas” de sua equipe, corre o risco de ser aquele tipo de “técnico de futebol” que barraria o Garrincha por ter as pernas tortas; ou Albert Einstein por ter notas baixas na escola; ou Beethoven por ser surdo. E na gestão dele o mundo teria PERDIDO todos esses talentos.

            Olhou a sua volta e reparou que o gestor olhava para baixo pensativo.

            - Seguindo este raciocínio, caso pudessem mudar o curso natural, os rios seriam retos e não haveria montanhas, nem lagoas, nem cavernas, nem homens, nem mulheres, nem sexo, nem chefes, nem subordinados... apenas peças... E nunca me esqueço de quando o Zacarias dos Trapalhões que “foi pra outras moradas”. Ao iniciar o programa seguinte, o Dedé entrou em cena e falou mais ou menos assim: “Estamos todos muito tristes com a ‘partida’ de nosso irmão Zacarias... e hoje, para substituí-lo, chamamos:



NINGUÉM...



Pois nosso Zaca é insubstituível.” - concluiu o rapaz e o silêncio foi total.



Tenham um bom dia...

uma boa tarde...

uma boa noite...

Insubstituíveis!            

Abraço a todos,
Marcos.

NÃO É POR SER "SEZTA-FEIRA" QUE DEVEREMOS NOS DIVERTIR, OU MELHOR, DEVEREMOS "CARPE DIEM" ALL DAYS...

Vejam que divertido encontrei no youtube... aproveitem em seus diversos sentidos (da-lhe sentidos polifônicos, rs....)

http://youtu.be/lwHAi7A1qV4

http://youtu.be/-BFq49Yc12Y

BELO... BELÍSSIMO... SENSÍVEL...

http://youtu.be/3SznyDnoLS8

VEJAM TAMBÉM QUE INCRÍVEL, GENIAL, CONTEMPORÂNEO...

http://youtu.be/4lY4kCD5o7A

Um enorme abraço a todos,
Marcos.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

NÃO AGUENTO ESSA PORRA DE DISCURSIVIDADES POLITICAMENTE CORRETAS...

Hoje, li no jornal "O Estado de São Paulo" que, pelo menos, inicialmente, não poderemos assistir ao filme "A Serbian Film - Terror sem Limites" nos cinemas do Brasil - a única exceção é a cidade de Maceió; meus parabéns a vocês porque estou morrendo de inveja!  -, de São Paulo - cidade onde eu moro -, porque há uma "tchurma do politicamente correto". Importante dizer que não sou a favor da pedofilia - abusar de qualquer pessoa fisicamente é um crime, não só de crianças -; porém me pergunto: EU SOU TÃO ABUSADO MORALMENTE TODOS OS DIAS. SOU VIOLENTADO FREQUENTEMENTE. SOU ESTUPRADO SEMANALMENTE. ISSO NÃO É UM CRIME TAMBÉM? Esses senhores e senhoras que proibiram a exibição do filme - apesar de haver lido não tratar-se de uma grande obra de arte; porém, eu tenho de ter o direito e a liberdade de decidir se desejo assisti-lo ou não, não é? -, provavelmente, zelando pela moral, pelos bons costumes, pela "inteligência emocional" são piores do que os libertinos retratados pelo Marquês de Sade em sua obra e por Pasolini em "Saló". Estou julgando sim!!! Às vezes julgamentos são necessários!!!
Repito: não sou a favor da pedofilia e nem da necrofilia (e se fosse desta última, ninguém teria nada a ver com isso, rs...). MAS SOU A FAVOR DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DE ESCOLHAS.

http://youtu.be/iHfKHJ1jxGs

http://youtu.be/0Qry84XxVOk

Um abraço libertino a vocês, ou seja, de alguém que não é favor de formas de castrações sociais.
Marcos.
  

BEETHOVEN...

Lu, meu querido amigo, essa eu devo a você. Obrigadíssimo por haver permitido que eu deleitasse a 9ª sinfonia duas vezes ao vivo.
Muchísimas gracias, corazón!

http://youtu.be/tpGSzH0Wlls

Um excelente dia a todos,
Marcos.

OLHEMOS... DESOLHEMOS... REOLHEMOS... INOLHEMOS... TRANSOLHEMOS... Desloquemos nossos olhares...

Olhemos... desolhemos... reolhemos... inolhemos... transolhemos... Desloquemos nossos olhares...
CARPE DIEM!





Las aventuras de Guille y Belinda de Alessandra Sanguinetti... FANTÁSTICO!

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

MOMENTOS DE ADORAÇÕES E ENDEUSAMENTOS...

Apesar de não ser a favor a adorações e endeusamentos, farei algumas exceções porque, a meu ver, impossível não adorar e endeusar o filme "Bagda Café" e sua música tema "Calling you".
Como é bom...
Hevean, I´m in heaven... (também postarei esse vídeo por adorá-lo "aussi", rs...).

Bagda Café, Calling you

http://youtu.be/pQiLsTa5jl8


Top Hat, Dancing cheek to cheek

http://youtu.be/DyfqW6td-yA

Um grande abraço a todos,
Marcos.

DA-LHE CHICO... GENIAL CHICO!!!

Vai Passar (Francis Hime - Chico Buarque)


Vai passar nessa avenida um samba popular

Cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai

Se arrepiar

Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais

Que aqui sangraram pelos nossos pés

Que aqui sambaram nossos ancestrais



Num tempo página infeliz da nossa história

Passagem desbotada na memória

Das nossas novas gerações

Dormia a nossa pátria mãe tão distraída

Sem perceber que era subtraída

Em tenebrosas transações



Seus filhos erravam cegos pelo continente

Levavam pedras feito penitentes

Erguendo estranhas catedrais

E um dia, afinal,

Tinham direito a uma alegria fugaz

Uma ofegante epidemia

Que se chamava carnaval

O carnaval, o carnaval

(Vai passar)



Palmas pra ala dos barões famintos

O bloco dos napoleões retintos

E os pigmeus do bulevar

Meu Deus, vem olhar

Vem ver de perto uma cidade a cantar

A evolução da liberdade

Até o dia clarear



Ai, que vida boa, olerê

Ai, que vida boa, olará

O estandarte do sanatório geral vai passar

Ai, que vida boa, olerê

Ai, que vida boa, olará

O estandarte do sanatório geral

Vai passar.


Um bom dia a todos,
Marcos.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

MACA... MACABEA... CLARICE... CLARICE LISPECTOR...

Boa tarde!
Estou cansado de conviver com Macabeas... rs...
O pior é que não se dão conta de que são Maca... Macabeas...
Quanta ingenuidade! (inclusive a minha, rs...)

"Pois que a vida é assim: aperta-se o botão e a vida se acende. Só ela não sabia qual era o botão de acender."
A hora da estrela, Clarice Lispector. 

http://youtu.be/K8J9pWkwsfQ

Excelente terca-feira a todos.
Um grande abraço,
Marcos.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

REFLEXÕES APÓS O FINDI...

Ontem, domingo, consegui ir à Pinacoteca do Estado pra visitar a exposição do romeno Saul Steinberg (1914-1999): "As aventuras da linha". Bela exposição! A meu ver, há um certo tom de deboche - humor - e de crítica social em relação a nossa tão querida sociedade. Bravo, Steinberg!!! Gostei particularmente dos seguintes quadros/desenhos: Galinha, 1945; Três mulheres e quatro cães, 1945; Três mulheres, 1945; Cinco mulheres com animais de estimação, 1945; sem título, 1950-1954 (autorretrato a partir da impressão digital. Classicão dele!!!); Mulher na banheira, 1949; Paisagem urbana com cômoda, 1950; Cidade de telhados, 1954; Fotografia da 3ª avenida, 1951; Três figuras na paisagem, 1951... Vale a pena ver e rever...
Além da exposição do Steinberg, há uma restrospectiva do artista português Fernando Lemos (1926) intitulada "Lá e cá, Retrospectiva". Ademais das belíssimaa imagens/quadros/figuras/desenhos, há textos/poemas/frases geniais escritas pelo Lemos. Vejam (leiam) que fascinante!

"Eu sou CÁ
Tu és CÁ
Ele é CÁ

Nós somos CÁ
Vos sois CÁ
Eles são CÁ
Deus
Deus não há

Se há
     É
     CÁ"

Fernando Lemos  

Nessa exposição, chamou-me a atenção o preto e branco (adorei uns quadros nesses tons em uma parede vermelha sangue). Em relação aos quadros, destacarei os seguintes: Eu, poeta, 1949-1952; A mão e a faca - acordo secreto, 1949-52; Foi banho demais, 2005-2009; Credo, parecia almoço espírita, 2005-2009; Vergonha pelo atraso, 2005-2009. Exposição genial!!! Muito boa!!!

Ambas as exposições nos fazem pensar e por esse motivo postarei o trilher do filme "Reflexões de um liquidificador" que, de meu ponto de vista, também nos faz pensar e aponta em direção ao conceito de como é bom refletir... rs...

http://youtu.be/2nmYYL4PBhw

Uma boa semana a todos.

Grande abraço,
Marcos.
   

domingo, 25 de setembro de 2011

DOMINICAIS SACO CHEIAIS...

Domingo, dia de recolhidas matinais... leituras matinais... e fazer um pouco de pirotecnia, rs...
Estou de saco cheio de julgamentos...
Por que nos julgam tanto?
Estou de saco cheio de regrinhas sociais...
Por que as pessoas são tão herméticas?
Onde estão meus interlocutores?

Ao ler "O Estado de São Paulo", encontro dois homens "lúcidos", apesar de suas generalizações e EU não concordar com tudo o que escrevem, seus lâmpejos de lucidez e inteligência me fascinam...
Vamos lá...

O primeiro deles é meu caro Daniel Piza - apesar de esculhambar com o governo Dilma Rousseff  em seu texto (não concordo com tudo o que diz, concordo parcialmente...), gosto quando diz que vivemos em "(n)uma verdadeira Era de Redundância" porque "ouvimos a mesma notícia em rádio, TV, jornal, revista, celular, computador, iPad, etc., etc." (O Estado de São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2011, Caderno 2, D14). Ou melhor: vivemos em tempos de ruminações e regurgitações... apesar de ser duro dizer e ouvir isso é o que predomina, especialmente nos meios educativos e acadêmicos.
Adorei quando o Daniel Piza escreveu que "alguém deveria lançar a disciplina de 'Transitologia', estudo do trânsito, dos congestionamentos de veículos nas metrópoles, e com grande probabilidade seria um paulistano." Boa sacada, Piza! Parabéns! MININI INTILIGENTCHI, TEM FUTURO, rs...

Além do Piza, o texto do Jorge Forbes está ótimo por várias razões. Ao invés de meramente comentá-lo, prefiro reproduzi-lo uma vez que toca na questão da MERDA que é viver em uma sociedade politicamente correta onde sempre deveremos nos conter, deveremos ser suturados, abafados... não podemos explodir, gritar, xingar, falar palavrões porque nos consideram FREAKS... É nessa MERDA de sociedade onde vivemos. Por esse motivo, surgem as bombas-ambulantes como esse menino de 10 anos que disparou em sua professora e se suicidou. Como é bom ler textos de seres pensantes que não julgam, criticam, impõem regras... - quanta ilusão a minha, rs... Serei panfletário conscientemente: VIVA JORGE FORBES!
  
"Órfãos do explicável

Aprendemos que tudo tem razão de ser - e aí vem a tragédia do menino de 10 anos que se matou

JORGE FORBES

Escrevo o que ninguém quer ler nem ouvir falar: não existe nenhuma fórmula, nenhum procedimento ou protocolo que tenha capacidade de prever uma atrocidade como a de um menino de 10 anos roubar o revólver do pai; esconder a arma, quando perguntado pelo próprio pai; atirar na sua professora; e em seguida se matar.
É esperado que sejamos nestes próximos dias bombardeados com detalhes da vida desse menino: suas leituras, amizades, humores, ascendência familiar, credos, hábitos, notas escolares, desenhos, bilhetes eletrônicos, tiques, sexualidade, estranhezas. Tudo é bom, tudo serve, para a tentativa desesperada de estabelecer um nexo causal. Somos filhos do Iluminismo. Aprendemos desde pequenos que tudo tem uma razão de ser e, se não compreendemos, a falha não está no saber - pois o saber é sem falha -, mas no raciocínio imperfeito.
A sociedade ainda não suporta constatar que a pós-modernidade nos fez órfãos do Iluminismo porque isso é desesperador. E agora que a festa do "tudo é explicável" acabou? Como suportar não saber se aquele garoto um pouco arredio não é o próximo assassino de si mesmo ou de alguém? Se insistirmos em causalidades forçadas, vamos criar uma sociedade irrespirável. Afinal, qual de nós não tem a sua esquisitice? Já se fala que a professora teria notado um comportamento diferente no menino e não lhe teriam dado atenção. Já se fala que o pai deveria ter prevenido a direção da escola sobre o desaparecimento da arma. Como é fácil ser profeta do passado! Duro é constatar que estamos em uma época na qual esses crimes inusitados são um dos tipos de manifestação.
Há poucos dias, a presidente, em nosso nome, disse na abertura da Assembleia-Geral da ONU: "O desafio colocado pela crise é substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo". Está correto e é válido para além da crise econômica: vivemos nos amparando nas teorias defasadas de um mundo velho, sim. Quem duvida que uma das interpretações que mais vai se fazer é a de que o menino se identificou com o pai policial? Ou que, ao contrário, para provocar o pai, teve um comportamento de bandido? Ou, pior, que por ódio ao pai se matou com seu instrumento?
Estamos desbussolados. Os sintomas de nossa inaptidão para viver neste novo mundo estão sendo tragicamente anunciados. Ontem, foi o moço da Noruega; hoje, o garoto brasileiro. Tão distantes e tão perto. Quando tudo parecia tão bem, tão perfeito: bom filho, boas notas, ia à igreja e até tocava bateria... ocorre o acidente, o fato inusitado, que nos deixa pasmados, ignorantes de nossa condição humana.
Urge, assembleia-geral de uma nova época, urge que abandonemos nosso conforto iluminista do tudo tem sua razão: essa luz ficou fraca, está nos deixando na sombra e liberando monstruosidades. A psicanálise tem novas contribuições para o momento atual. Não se trata mais do Freud explica, mas do Freud implica. O Freud explica é do tempo da revelação do saber escondido, fora da consciência, no inconsciente. O Freud implica é de agora, da constatação de que, de uma sociedade da razão, fomos a um novo tipo de laço social: o ressoar, "tá ligado?". Essa é a pergunta dessa geração que está aí, a geração mutante. Seus membros não perguntam se o que ele disse você entendeu, mas se lhe tocou, se você pode fazer alguma coisa com o que ele falou, não a mesma coisa feita por ele, mas algo marcado, atravessado por sua singularidade, necessariamente diferente da dele, daí o "tá ligado?".
O que se teme é que então estaríamos caminhando para uma esbórnia geral de comportamentos individualistas. Falsa conclusão de nossas mentes viciadas na segurança da razão padronizada. A sociedade do ressoar exige um duplo movimento de cada um: invenção e responsabilidade. Invenção, pois quando falta o caminho pré-estabelecido há que se inventar um. E responsabilidade, pois se deve inscrever no mundo a sua invenção, motivo pelo qual o medo do individualismo não se sustenta.
Para isso, uma guinada de 180 graus nos é exigida. A educação, sem dúvida, é um dos principais setores dessa mudança que já tarda. Em vez de medicalizar o aluno supostamente inadequado à escola, como tem sido feito nos últimos anos, amparados abusivamente no diagnóstico de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), melhor questionar a escola; não essa ou aquela, mas a instituição escolar, se ela está preparada para uma sociedade viral, das redes horizontais, da criatividade responsável. Na medida em que pudermos habitar esse novo mundo com uma nova bússola, na medida em que ampliarmos a legitimação das singularidades, seremos menos surpreendidos. Estamos atrasados.

JORGE FORBES É PSICANALISTA, PSIQUIATRA. PRESIDE O INSTITUTO DA PSICANÁLISE , LACANIANA - IPLA, DIRIGE A CLÍNICA DE , PSICANÁLISE DO CENTRO DO GENOMA HUMANO, DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO"

Em: O Estado de São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2011, Aliás, J7.

Após tudo isso, somente posso me dirigir ao grupo de teatro "Satyros" (como são contemporâneos):

"Teatro
SATYROS ESTREIAM PEÇA NA INTERNET
Na terça-feira, às 21 horas, o grupo Os Satyros estreia o espetáculo digital Cabaret Stravaganza, em cartaz no hotsite www.cabaretstravaganza.com.br. A peça conta a história real do ator Leo Moreira Sá, que passará por uma série de processos cirúrgicos para se tornar uma mulher. No mesmo dia, às 19h30, haverá um debate com os atores do espetáculo no Restaurante Rose Velt (Praça Franklin Roosevelt, 124). Os ingressos devem ser retirados uma hora antes do evento. No espetáculo físico, que estreia dia 20 de outubro no Espaço Os Satyros Um, o público poderá conferir, ao vivo, como ficou a transformação do protagonista."
Em: O Estado de São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2011.
Uma dica: a partir de 30 de setembro, poderemos apreciar a obra de Olafur Eliasson em três lugares - no Sesc Belenzinho, no Sesc Pompeia e na Pinacoteca. Não poderemos perder.
Pra terminar, um pequeno espetáculo pirotécnico... talvez comece a ser entendido, rs... sei lá... qué sé yo! o que será ser compreendido? 
Abraço afetuoso e excelente domingo a todos,
Marcos.



sábado, 24 de setembro de 2011

OUTRO GÊNIO DO CINEMA: DAVID LYNCH

O filme Mulholland Drive (2001) de David Lynch é uma obra-prima dentre tantas do século XX e XXI... A meu singelo ver, aborda as diversas questões identitárias do mundo atual, mais do que uma crítica à indústria cinematográfica hollywoodiana - apesar de até fazê-la... Lynch não é/foi compreendido nesse filme...

http://youtu.be/96R9MG0DxLc

http://youtu.be/AIpkMg9sh6Q

Grande abraço,
Marcos.

LORCA... NOSSO GRANDE LORCA!

Adoro os três poemas do Federico García Lorca (1898-1986) que postarei abaixo:

LA CORRIDA Y LA MUERTE

A las cinco de la tarde.
Eran las cinco en punto de la tarde.
Un niño trajo la blanca sábana
a las cinco de la tarde.
Una espuerta de cal ya prevenida
a las cinco de la tarde.
Lo demás era muerte y sólo muerte
a las cinco de la tarde.

El viento se llevó los algodones
a las cinco de la tarde.
Y el óxido sembró cristal y níquel
a las cinco de la tarde.
Ya luchan la paloma y el leopardo
a las cinco de la tarde.
Y un muslo con un asta desolada
a las cinco de la tarde.
Comenzaron los sones del bordón
a las cinco de la tarde.
Las campanas de arsénico y el humo
a las cinco de la tarde.
En las esquinas grupos de silencio
a las cinco de la tarde.
¡Y el toro, solo corazón arriba!
a las cinco de la tarde.
Cuando el sudor de nieve fue llegando
a las cinco de la tarde,
cuando la plaza se cubrió de yodo
a las cinco de la tarde,
la muerte puso huevos en la herida
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
A las cinco en punto de la tarde.

Un ataúd con ruedas es la cama
a las cinco de la tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.
El toro ya mugía por su frente
a las cinco de la tarde.
El cuarto se irisaba de agonía
a las cinco de la tarde.
A lo lejos ya viene la gangrena
a las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco de la tarde.
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde,
y el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
¡Ay qué terribles las cinco de la tarde!
¡Eran las cinco en todos los relojes!
¡Eran las cinco en sombra de la tarde!

http://youtu.be/jb7jS-4HCGI
 
 BALADILLA DE LOS TRES RÍOS

A Salvador Quintero

El río Guadalquivir
va entre naranjos y olivos
Los dos ríos de Granada
bajan de la nieve al trigo.

¡Ay, amor,
que se fue y no vino!


El río Guadalquivir
tiene las barbas granates.
Los dos ríos de Granada
uno llanto y otro sangre.

¡Ay, amor,
que se fue por el aire!


Para los barcos de vela,
Sevilla tiene un camino;
por el agua de Granada
sólo reman los suspiros.

¡Ay, amor,
que se fue y no vino!


Guadalquivir, alta torre
y viento en los naranjales.
Dauro y Genil, torrecillas
muertas sobre los estanques.

¡Ay, amor,
que se fue por el aire!


¡Quién dirá que el agua lleva
un fuego fatuo de gritos!

¡Ay, amor,
que se fue y no vino!


Lleva azahar, lleva olivas,
Andalucía, a tus mares.

¡Ay, amor,
que se fue por el aire!


http://youtu.be/AjdFQG6gmQs

ROMANCE SONÁMBULO

Verde que te quiero verde. 
Verde viento. Verdes ramas. 
El barco sobre la mar 
y el caballo en la montaña. 
Con la sombra en la cintura 
ella sueña en su baranda, 
verde carne, pelo verde, 
con ojos de fría plata. 
Verde que te quiero verde. 
Bajo la luna gitana,
las cosas la están mirando 
y ella no puede mirarlas.
Verde que te quiero verde. 
Grandes estrellas de escarcha 
vienen con el pez de sombra 
que abre el camino del alba. 
La higuera frota su viento 
con la lija de sus ramas, 
y el monte, gato garduño, 
eriza sus pitas agrias.
¿Pero quién vendra? ¿Y por dónde...? 
Ella sigue en su baranda, 
Verde came, pelo verde, 
soñando en la mar amarga.
-Compadre, quiero cambiar
mi caballo por su casa,
mi montura por su espejo,
mi cuchillo per su manta.
Compadre, vengo sangrando,
desde los puertos de Cabra.
-Si yo pudiera, mocito, 
este trato se cerraba. 
Pero yo ya no soy yo, 
ni mi casa es ya mi casa.
-Compadre, quiero morir 
decentemente en mi cama. 
De acero, si puede ser, 
con las sábanas de holanda. 
¿No ves la herida que tengo 
desde el pecho a la garganta?
-Trescientas rosas morenas
lleva tu pechera blanca. 
Tu sangre rezuma y huele 
alrededor de tu faja. 
Pero yo ya no soy yo,
ni mi casa es ya mi casa.
-Dejadme subir al menos 
hasta las altas barandas;
¡dejadme subir!, dejadme, 
hasta las verdes barandas. 
Barandales de la luna 
por donde retumba el agua. 
Ya suben los dos compadres 
hacia las altas barandas. 
Dejando un rastro de sangre. 
Dejando un rastro de lágrimas. 
Temblaban en los tejados
farolillos de hojalata. 
Mil panderos de cristal 
herían la madrugada.
Verde que te quiero verde,
verde viento, verdes ramas. 
Los dos compadres subieron.
El largo viento dejaba 
en la boca un raro gusto
de hiel, de menta y de albahaca.
¡Compadre! ¿Donde está, díme?
¿Donde está tu niña amarga? 
¡Cuántas veces te esperó!
¡Cuántas veces te esperara,
cara fresca, negro pelo, 
en esta verde baranda!
Sobre el rostro del aljibe
se mecía la gitana. 
Verde carne, pelo verde, 
con ojos de fría plata.
Un carámbano de luna 
la sostiene sobre el agua.
La noche se puso íntima 
como una pequeña plaza. 
Guardias civiles borrachos 
en la puerta golpeaban. 
Verde que te qinero verde. 
Verde viento. Verdes ramas. 
El barco sobre la mar. 
Y el caballo en la montaña.

http://youtu.be/UG5IDgS_1Kg

Como tudo isso nos faz um bem imenso...

Abraço afetuoso,
Marcos.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

TODO DIA É DIA DE DANÇAR... É POR ISSO QUE ADORO "PEOPLE HOLD ON"

Não é por ser sexta-feira que deveremos sair pra dançar. Vamos dançar, não-dançar, curtir, descansar/dar "pause", divertirmo-nos, pararmos, rirmos, chorarmos, emocionarmo-nos todos os dias... CARPE DIEM...

People hold on, Lisa Stansfield...

http://youtu.be/508bADC2FTA

Abraço,
Marcos.

WIN WENDERS, STEPHEN DALDRY E ALEJANDRO GONZÁLEZ IÑARRITU

Bom dia a todos!

Abaixo postarei três cenas que me comovem absurdamente.
A primeira delas é uma cena do filme "Der Himmel über Berlin" ("Asas do desejo", 1987) do genial Win Wenders.

http://youtu.be/xKmnPyol3vY

Na sequência, a belíssima cena inicial do filme "The hours" ("As horas", 2002) de Stephen Daldry.

http://youtu.be/xl08W86Oaqo

Além dessa cena, encontrei uma espécie de "potpourri" do filme que me pareceu bem interessante...

http://youtu.be/r39_k_uHCEI

Para terminar, a cena final (em espanhol e em inglês) do incrível "21 grams" ("21 gramas") do Alejandro González Iñarritu.

http://youtu.be/yGnqaBKoypQ

"Cuántas vidas vivimos?
¿cuántas veces morimos?
Dicen que todos perdemos 21 gramos en el momento exacto de la muerte, todos.
¿Cuánto cabe en 21 gramos?
¿cuánto se pierde?
¿cuándo perdemos 21 gramos?
¿cuándo se va con ellos?
¿cuánto se gana?
¿cuánto... se gana?
21 gramos el peso de 5 monedas de 5 centavos, el peso de un colibrí, de una chocolatina.
¿Cuánto pesan 21 gramos?".

http://youtu.be/dv_kVbGHvsc

"How many lives do we live?
How many times do we die?
They say we all lose 21 grams... at the exact moment of our death. Everyone.
And how much fits into 21 grams?
How much is lost?
When do we lose 21 grams?
How much goes with them?
How much is gained?
How much is gained?
Twenty-one grams.
The weight of a stack of five nickels. The weight of a hummingbird. A chocolate bar.
How much did 21 grams weigh?"

O que dizer após tudo isso? Lugar comum: I have no words...

Grande abraço,
Marcos.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

QUE MERDA TERMOS DE TER OPINIÃO ACERCA DE TUDO NESSA PORRA DE VIDA!!!

No último domingo, li a crônica do Veríssimo e me pareceu bem interessante. Caso tenham saco e paciência, saboreiem-na.

"Com ou sem gás

- Uma mineral - pediu o homem.
- Com ou sem gás?
- Pois é. Decisões, decisões... Com gás. Não, sem. Com.
- O senhor quer couvert?
- Não precisa. Ou então traga, sim. Mas só pão.
- Não quer manteiga? Talvez umas azeitonas?
- Isso. Azeitonas.
- Verdes ou pretas?
- Ah, pode escolher? Verdes. Não, pretas. Verdes. Não importa. Traga as duas.
- O senhor precisa se definir.
- Eu sei, eu sei. É que nem sempre é fácil...
- E a manteiga. Vai querer?
- Hmmm. Deixa ver. Você precisa da resposta agora?
- Sim senhor.
- Manteiga, manteiga... Não. Manteiga, não. Ou sim.
- Sim ou não?
- Calma. As escolhas não podem ser assim, definitivas, meu caro. Por exemplo: você quer ser enterrado ou cremado?
- Ainda não pensei nisso.
- Pois é. Eu penso nisso a toda hora. E ainda não cheguei a uma conclusão. Você acredita em vida depois da morte?
- Acredito.
- Não tem nenhuma dúvida a respeito?
- Não.
- Eu não sei se acredito ou não.
- Olhe, o prato do dia hoje é file de peixe à dore com batatas.
- Pode vir.
- As batatas podem ser fritas ou cozidas.
- Hmm. Certo. Eu quero fritas. Não, cozidas. Fritas!
- Molho remolado ou bechamel?
- O quê?
- Com o peixe. Molho remolado ou bechamel?
- Ai meu Deus. Deixa eu pensar.
- Remolado ou bechamel?!
- Espera um pouquinho.
- REMOLADO OU BECHAMEL?!
- Você está me pressionando.
- O senhor precisa se decidir, cavalheiro.
- Eu sei. Pensa que eu não sei?
- Remolado ou bechamel?
- Assim não dá. Querem que a gente tenha opiniões definitivas. Como se tudo pudesse ser decidido assim, na hora. Pena de morte, sim ou não? Pagode, sim ou não? Liberação da maconha, sim ou não? Remolado ou bechamel? Mineral com gás ou sem gás é apenas o começo. Depois querem que eu me posicione a respeito de tudo. Pois não lhes darei essa satisfação. Não quero água mineral nem com gás nem sem gás. Vou tomar vinho!
- Tinto ou branco?
- Tinto. Branco. Tinto. Não, branco.
- Seco ou frutado?
- Suspende o almoço!"

Em: O Estado de São Paulo, domingo, 18/09/2011, Caderno 2, D12.

Entenderam?
É uma merda mesmo, não é? 
Viva a falta de opinião!!! rs... 

Abraço a todos,
Marcos.

   

HABLE CON ELLA...

Por alguma razão inexplicável - não sei se é tão inexplicável como imagino... -, lembrei-me de um filme do Almodóvar, por esse motivo, postarei duas cenas (musicadas) que me fascinam.
Haja coração! E aguardemos pelo novo Almodóvar: "La piel que habito" (2011).

Hable con ella, Pedro Almodóvar (Fale com ela, 2002):

http://youtu.be/AFwUNZBXCJM

http://youtu.be/-CsA1CcA4Z8

Elis Regina (1945-1982), "Por toda minha vida".

http://youtu.be/zkt_yURlTs4

Abraço afetuoso a todos,

Marcos.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

IMAGENS...

Vejam, sintam, leiam, aproveitem, riam, sorriam, chorem, xinguem, elogiem, emocionem-se... permitam-se...

                                                                           






As imagens são respectivamente de: Araquém Alcântara, Cartier Bresson, Cartier Bresson, Marc Ferrez, Sebastião Salgado, Sony World Photography Awards e Ansel Adams.
Agradeço ao professor Carlos (não tenho seu sobrenome) por haver-me  permitido acesso a essas imagens por meio do CD "As luzes escolares". Muitíssimo obrigado, Carlos.

VACONNA... VACONNA... VACONNA...

A Vaconna, apesar de vendida, revendida, desvendida... disse/escreveu/ cantou alguns versos interessantes (ela soube e sabe captar o que queremos/precisamos ouvir, ou melhor, por "pior" que seja, tem um mínimo de sensibilidade... PUTA MULHER, HAJA POLIFONIA(S)pra explicar-me), como os que postarei abaixo:  

http://youtu.be/2lS780CWph0

http://youtu.be/iBqozVm5fdQ

Boa(s) leitura(s) audiovisual(is).
Marcos.

UM POUCO DE CARLOS FUENTES...

Adoro ler as crônicas do Arnaldo Jabor. Em sua crônica de ontem - "Dilma pode fazer um bom governo" (O Estado de São Paulo, 3a. feira, 20/09/2011, Caderno 2, D8), ele escreveu o seguinte: "Depois, soube que ela [Dilma Roussef] não tinha aguentado um livro de Carlos Fuentes (que também acho um chato de galochas)...". Apesar de não conhecer a obra do Fuentes, adoro sua obra "El espejo enterrado" e, por essa razão, reproduzo abaixo um trecho desse livro. Jabor, meu querido Jabor, não é porque você não gosta do Fuentes que deixarei de lê-lo (rs...); mesmo minha opinião não importando nada pra você, considero-o um homem lúcido em tempos de cegueira...
Boa leitura a todos. 

La Virgen y el Toro

A través de España, las Américas recibieron en toda su fuerza a la tradición mediterránea. Porque si España es no solo cristiana, sino árabe y judía, también es griega, cartaginesa, romana, y tanto gótica como gitana. Quizás tengamos una tradición indí­gena más poderosa en México, Guatemala, Ecuador, Perú y Bolivia, o una presencia europea más fuerte en Argentina o en Chile. La tradición negra es más fuerte en el Caribe, en Venezue­la y en Colombia, que en México o Paraguay. Pero España nos abraza a todos; es, en cierta manera, nuestro lugar común. España, la madre patria, es una proposición doblemente genitiva, madre y padre fundidos en uno solo, dándonos su calor a veces opresivo, sofocantemente familiar, meciendo la cuna en la cual descansan, como regalos de bautizo. L
as herencias del mundo mediterraneo. La lengua española. La religión católica. La tradi­ción política autoritaria —pero también las posibilidades de identificar una tradición democrática que pueda ser genuina­mente nuestra, y no un simple derivado de los modelos france­ses o angloamericanos.
La España que llegó al Nuevo Mundo en los barcos de los descubridores y conquistadores nos dio, por lo menos. La mitad de nuestro ser. No es sorprendente, así, que nuestro debate con España haya sido, y continúe siendo, tan intenso. Pues se trata de un debate con nosotros mismos. Y si de nuestras discusiones con los demás hacemos política, advirtió W. B. Yeats, de nuestros debates con nosotros mismos hacemos poesía. Una poesía no siempre bien rimada o edificante, sino más bien, a veces, un lirismo duramente dramático, crítico, aun negativo, oscuro como un grabado de Goya, o tan compasivamente cruel como una imagen de Buñuel. Las posiciones en favor o en contra de España, su cultura y su tradición, han coloreado las discusiones de nuestra vida política e intelectual. Vista por algunos como una virgen inmaculada, por otros como una sucia ramera, nos ha to­mado tiempo dando cuenta de que nuestra relación con España es tan conflictiva como nuestra relación con nosotros mismos. Y tan conflictiva como la relación de España con ella misma: irresuelta, a veces enmascarada, a veces resueltamente intolerante, maniquea, dividida entre el bien y el mal absolutos. Un mundo de sol y sombra, como en la plaza de toros. A menudo. España se ha visto a si misma de la misma manera que nosotros la hemos visto. La medida de nuestro odio es idéntica a la medida de nuestro amor. ¿Pero no son estas sino maneras de nombrar la pasión?
Varios traumas marcan la relación entre España y la América española. El primero, desde luego, fue la conquista del Nuevo Mundo, origen de un conocimiento terrible, el que nace de estar presentes en el momento mismo de nuestra creación, ob­servadores de nuestra propia violación, pero también testigos de las crueldades y ternuras contradictorias que formaron parte de nuestra concepción –Los hispanoamericanos no podemos ser entendidos sin esta conciencia intensa del momento en que fuimos concebidos, hijos de una madre anónima, nosotros mismos desprovistos de nombre, pero totalmente conscientes del nombre de nuestros padres. Un dolor magnífico funda la re­lación de Iberia con el Nuevo Mundo: un parto que ocurre con el conocimiento de todo aquello que hubo de morir para que nosotros naciésemos: el esplendor de las antiguas culturas indí­genas.
En nuestras mentes hay muchas "Españas". Existe la España de la "leyenda negra": inquisición, intolerancia y contrarreforma, una visión promovida por la alianza de la modernidad con el protestantismo, fundidos a su vez en una oposición secular a España y todas las cosas españolas. En seguida, existe la España de los viajeros ingleses y de los románticos franceses. La España de los toros, Carmen y el flamenco. Y existe también la madre España vista por su descendencia colonial en las Américas, la España ambigua del cruel conquistador y del santo misionero, tal y como nos los ofrece, en sus murales, el pintor mexicano Diego Rivera.
El problema con los estereotipos nacionales, claro está, es que contienen un grano de verdad, aunque la repetición constante lo haya enterrado. ¿Ha de morir el grano para que la planta germine? El texto es lo que está ahí, claro y ruidoso a veces; pero el contexto ha desaparecido. Restaurar el contexto del lugar común puede ser tan sorprendente como peligroso. ¿Simplemente reforzamos el clisé? Este peligro se puede evitar cuando intentamos revelar a nosotros mismos, como miembros de una nacionalidad o de una cultura, y a un público extranjero, los significados profundos de la iconografía cultural, por ejemplo de la intolerancia y de la crueldad, y de lo que estos hechos disfrazan? ¿De dónde vienen estas realidades? ¿Por qué son, en efecto, reales y perseverantes?
Encuentro dos constantes del contexto español. La primera es que cada lugar común es negado por su opuesto. La España romántica y pintoresca de Byron y Bizet, por ejemplo, convive cara a cara con las figuras severas, casi sombrías y aristocráticas de El Greco y Velázquez; y estas, a su vez, coexisten con las figuras extremas, rebeldes a todo ajuste o definición, de un Goya o de un Buñuel. La segunda constante de la cultura española es revelada en su sensibilidad artística, en la capacidad para hacer de lo invisible visible, mediante la integración de lo marginal, o perverso, lo excluido, a una realidad que en primer término es la del arte.
Pero el ritmo y la riqueza mismos de esta galaxia de oposiciones es resultado de una realidad española aún más fundamental: ningún otro país de Europa, con la excepción de Rusia, ha sido invadido y poblado por tantas y tan diversas olas migratorias.


FUENTES, Carlos. El espejo enterrado. México: Fondo de Cultura económica, 1992.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

CANCERIANO, CASEIRO, ROMÂNTICO... QUE FODA!

Os vídeos abaixo, talvez, apontem um pouco em direção a(s) minha(s) questão(ões) identitária(s)...

Everytime we say goodbye, I die a litte por Annie Lennox... (Adoro o filme "Eduardo II").

http://youtu.be/-bnKJjewcII

Just in Time por Nina Simone... (cena final do lindíssimo "Antes do pôr-do-sol").

http://youtu.be/tjKeCxP7-sc

Moon river abertura instrumental e por Audrey Hepburn em Breakfast at Tiffany´s (belo demais...).

http://youtu.be/yDddAKtELZ8

http://youtu.be/BOByH_iOn88

The Blower's daughter por Damien Rice (cenas inicial e final do incrível "Closer - Perto Demais").

http://youtu.be/BeJwdUwLLi8

http://youtu.be/MRo02n6UsBk

E o magistral Rufus Wainright interpretando "Across the universe"...

http://youtu.be/cAe1lVDbLf0

DESENREDO DE GUIMARÃES ROSA

Há algum tempo, elaborei/formulei o conceito de desleituras - quanta pretensão!!! - a partir do contato com o seguinte conto de Guimarães Rosa. Apesar de que Harold Bloom publicou o livro "Um mapa da desleitura", que desenvolve um conceito de "desleitura". Bom... basta de tanto blá-blá-blá, e passemos a leitura do conto...

DESENREDO de João Guimarães Rosa
Do narrador a seus ouvintes:
               – Jó Joaquim, cliente, era quieto, respeitado, bom como o cheiro de cerveja. Tinha o para não ser célebre. Como elas quem pode, porém? Foi Adão dormir e Eva nascer. Chamando-se Livíria, Rivília ou Irlívia, a que, nesta observação, a Jó Joaquim apareceu.
              Antes bonita, olhos de viva mosca, morena mel e pão. Aliás, casada. Sorriram-se, viram-se. Era infinitamente maio e Jó Joaquim pegou o amor. Enfim, entenderam-se. Voando o mais em ímpeto de nau tangida a vela e vento. Mas tendo tudo de ser secreto, claro, coberto de sete capas.
              Porque o marido se fazia notório, na valentia com ciúme; e as aldeias são a alheia vigilância. Então ao rigor geral os dois se sujeitaram, conforme o clandestino amor em sua forma local, conforme o mundo é mundo. Todo abismo é navegável a barquinhos de papel.
              Não se via quando e como se viam. Jó Joaquim, além disso, existindo só retraído, minuciosamente. Esperar é reconhecer-se incompleto. Dependiam eles de enorme milagre. O inebriado engano.
              Até que  - deu-se o desmastreio. O trágico não vem a conta-gotas. Apanhara o marido a mulher: com outro, um terceiro... Sem mais cá nem mais lá, mediante revólver, assustou-a e matou-o. Diz-se, também, que a ferira, leviano modo.
              Jó Joaquim, derrubadamente surpreso, no absurdo desistia de crer, e foi para o decúbito dorsal, por dores, frios, calores, quiçá lágrimas, devolvido ao barro, entre o inefável e o infando. Imaginara-a jamais a ter o pé em três estribos; chegou a maldizer de seus próprios e gratos abusufrutos. Reteve-se de vê-la. Proibia-se de ser pseudopersonagem, em lance de tão vermelha e preta amplitude.
              Ela - longe - sempre ou ao máximo mais formosa, já sarada e sã. Ele exercitava-se a aguentar-se, nas defeituosas emoções.
              Enquanto, ora, as coisas amaduravam. Todo fim é impossível? Azarado fugitivo, e como à Providência praz, o marido faleceu, afogado ou de tifo. O tempo é engenhoso.
             Soube-o logo Jó Joaquim, em seu franciscanato, dolorido mas já medicado. Vai, pois, com a amada se encontrou - ela sutil como uma colher de chá, grude de engodos, o firme fascínio. Nela acreditou, num abrir e não fechar de ouvidos. Daí, de repente, casaram-se. Alegres, sim, para feliz escândalo popular, por que forma fosse.
             Mas.
             Sempre vem imprevisível o abominoso? Ou: os tempos se seguem e parafraseiam-se. Deu-se a entrada dos demônios.
             Da vez, Jó Joaquim foi quem a deparou, em péssima hora: traído e traidora. De amor não a matou, que não era para truz de tigre ou leão. Expulsou-a apenas, apostrofando-se, como inédito poeta e homem. E viajou fugida a mulher, a desconhecido destino.
             Tudo aplaudiu e reprovou o povo, repartido. Pelo fato, Jó Joaquim sentiu-se histórico, quase criminoso, reincidente. Triste, pois que tão calado. Suas lágrimas corriam atrás dela, como formiguinhas brancas. Mas, no frágio da barca, de novo respeitado, quieto. Vá-se a camisa, que não o dela dentro. Era o seu um amor meditado, a prova de remorsos. Dedicou-se a endireitar-se.
              Mais.
             No decorrer e comenos, Jó Joaquim entrou sensível a aplicar-se, a progressivo, jeitoso afã. A bonança nada tem a ver com a tempestade. Crível? Sábio sempre foi Ulisses, que começou por se fazer de louco. Desejava ele, Jó Joaquim, a felicidade - ideia inata. Entregou-se a remir, redimir a mulher, à conta inteira. Incrível? É de notar que o ar vem do ar. De sofrer e amar, a gente não se desafaz. Ele queria os arquétipos, platonizava. Ela era um aroma.
             Nunca tivera ela amantes! Não um. Não dois. Disse-se e dizia isso Jó Joaquim. Reportava a lenda a embustes, falsas lérias escabrosas. Cumpria-lhe descaluniá-la, obrigava-se por tudo. Trouxe à boca-de-cena do mundo, de caso raso, o que fora tão claro como água suja. Demonstrando-o, amatemático, contrário ao público pensamento e à lógica, desde que Aristóteles a fundou. O que não era tão fácil como refritar almôndegas. Sem malícia, com paciência, sem insistência, principalmente.
             O ponto está em que o soube, de tal arte: por antipesquisas, acronologia miúda, conversinhas escudadas, remendados testemunhos. Jó Joaquim, genial, operava o passado - plástico e contraditório rascunho. Criava nova, transformada realidade, mais alta. Mais certa?
              Celebrava-a, ufanático, tendo-a por justa e averiguada, com convicção manifesta. Haja o absoluto amar - e qualquer causa se irrefuta.
              Pois, produziu efeito. Surtiu bem. Sumiram-se os pontos das reticências, o tempo secou o assunto. Total o transato desmanchava-se, a anterior evidência e seu nevoeiro. O real e válido, na árvore, é a reta que vai para cima. Todos já acreditavam. Jó Joaquim primeiro que todos.
             Mesmo a mulher, até, por fim. Chegou-lhe lá a notícia, onde se achava, em ignota, defendida, perfeita distância. Soube-se nua e pura. Veio sem culpa. Voltou, com dengos e fofos de bandeira ao vento.
            Três vezes passa perto da gente a felicidade. Jó Joaquim e Vilíria retomaram-se, e conviveram, convolados, o verdadeiro e melhor de sua útil vida.
             E pôs-se a fábula em ata.
 
 
Em: GUIMARÃES ROSA, João. Tutameia: terceiras estórias. 6ª edição. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1985, p.47-49.

GOTAN PROJECT E BAJOFONDO

Abaixo postarei o link de três vídeos do youtube hiper, mega, ultra, genialmente contemporâneos - essas discursidades heróicas "me encantam" (rs...) -. O primeiro é "Rayuela" (Jogo da Amarelinha) do Gotan Project. Impossível não nos referirmos ao incrível livro de Cortázar.

http://youtu.be/xHBeF1HlBsM

O segundo, também do Gotan Project, "Diferente" é GORGEOUSíssimo...

http://youtu.be/DH76CZbqoqI

E o último do Bajofondo, "Perfume": olfato, cheiro, procura, busca...

http://youtu.be/gJCzkcBfjHk

CARPE DIEM! Sejamos felizes!

OFFLINERS... TOM RACHMAN...

Apesar de ler o jornal "O Estado de São Paulo" não sou, nem me considero um conservador - mais uma vez estou "cá" com minhas ilusões -, muito pelo contrário, sou muito mais libertino... (rs...). Apenas gosto de ler textos estilisticamente bem escritos - mais ilusões.

"Tom Rachman lançou no ano passado, aos 35 anos, seu livro de estreia, 'The imperfectionists', inédito no Brasil. Aclamado pela crítica, o best-seller, um romance sobre um grupo de jornalistas, teve seus direitos de adaptação para o cinema comprados por Brad Pitt. Em crítica ao 'New York Review of Books', o também escritor Christopher Buckley diz que teve de ler o livro duas vezes 'para entender como ele conseguiu fazer isso'. Neste ensaio inédito no Brasil, Rachman imagina um momento, em 2021, em que a nostalgia do passado analógico levará a uma fuga do digital.

(...) Toda grande mudança social é correspondida por um efeito contrário. A globalização levou aos embates mais violentos da última década, entre os que prosperavam dentro deste sistema e aqueles que o consideravam desalmado. Antes disso, a Revolução Industrial levou ao surgimento do romantismo, cujos adeptos criticavam a urbanização e a frieza do comércio moderno, ansiando por uma alternativa idílica às fábricas e às novas tecnologias do século 19.
A próxima década testemunhará rejeição semelhante, com a ascensão dos românticos offline. Esses saudosistas do mundo desconectado criticarão aquilo que consideram ser a degradação da consciência humana: a capacidade cada vez menor de prestar atenção, a dificuldade de concentração, o zumbido da excitação digital invadindo a vigília.
(...) Esses saudositas, ou offliners, defenderão que nossa resposta inicial aos milagres tecnológicos do início do século 21 terá sido ingênua - como a de criança que descobrem uma máquina mágica de balas e jujubas e se recusam a admitir que empanturrar-se constantemente tem consequências.
Quando o assunto é comida, o exagero leva ao sobrepeso. No caso da tecnologia, dirão os offliners, leva a cérebros flácidos. Eles destacarão que os seres humanos de antes faziam mais do que simplesmente apertar botões à espera de recompensas - sua consciência era exigida, e não apenas satisfeita. Eles tinham memórias internas. Eras capazes de se concentrar numa única tarefa, em vez de alternar aos trancos e barrancos entre seis atividades simultâneas. Eram também mais calmos, levando uma existência livre das constantes injeções de adrenalina da excitação digital.
(...) Os fanáticos vão deixar seus aparelhos eletrônicos desligados por dias, fecharão suas contas de e-mail, sairão das redes sociais, tentarão se apagar do mundo online - um seleto grupo de românticos mais dedicados pode chegar ao extremo de viver sem assistir aos vídeos virais com gatos tocando teclado.
Os moderados consignarão partes de cada dia à vida como costumávamos vivê-la, recorrendo, por exemplo, a conversas cara a cara. Chegarão até a buscar períodos de tédio - aceitando momentos que transcorram na ausência de fones de ouvido, de óculos especiais e de todas as outras formas de entretenimento.
(...) Em 2021, os sonhos não serão mais a respeito do futuro da tecnologia; os sonhos evocarão um modo de vida anterior, mais lento, mais desajeitado e cada vez mais difícil de ser lembrado."
Texto escrito por Tom Rachman e publicado originalmente no jornal "The International Herald Tribune". Os fragmentos reproduzidos acima foram copiados do jornal "O Estado de São Paulo", segunda-feira, 19 de setembro de 2011, nº 1037, caderno Link, p.L1, tradução: Augusto Calil.

O único comentário que posso fazer é: como faz bem pensar e saber que há pessoas pelo mundo afora que compactuam de meu singelo modo de "recortar" o mundo. 
Grande abraço,
Marcos.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

MELANCOLIA, WAGNER E JUSTINE...

Ontem, 18 de setembro, fui reassistir ao filme "Melancolia" com um amiga querida. Já o havia visto há duas semanas e havia saído estasiado/extasiado/ecstasiado do cinema, ou seja, havia tido múltiplos orgasmos audiovisuais (rs...). Portanto, queria reassisti-lo pra saber se, efetivamente, o filme me emocionava/tocava tanto quanto da primeira vez que o havia visto. Lembro-me de que na primeira vez que o assisti havia sido imensamente tocado pelo prólogo, por um furacão de imagens ao longo do filme e pela cena final. Explicar-me-ei (emprego a mesóclise apenas pra divertir-me um pouco, rs...) a continuação.
O filme inicia-se com um prólogo magistral. Além da série de imagens serem deslumbrantes, há um personagem genial: a trilha sonora, ou melhor, a música composta por Wagner (1813-1883) para a ópera "Tristão e Isolda". Aqui preciso agradecer ao Luís Henrique por haver-me apresentado esse espaço da música erudita/clássica. Muitíssimo obrigado, Lu! Bom... talvez seja interessante comentar algo sobre o mito de "Tristão e Isolda". Para esse comentário vou empregar-me do esquemão wikipédia, copiar e colar (rs...).

"Tristão e Isolda é uma história lendária sobre o trágico amor entre o cavaleiro Tristão, originário da Cornualha, e a princesa irlandesa Isolda (ou Iseu). De origem medieval, a lenda foi contada e recontada em muitas diferentes versões ao longo dos séculos.
O mito de Tristão e Isolda tem provável origem em lendas que circulavam entre os povos celtas do norte da Europa, ganhando uma forma mais ou menos definitiva a partir de obras literárias escritas por autores normandos no século XII. No século seguinte a história foi incorporada ao Ciclo Arturiano, com Tristão transformando-se em um cavaleiro da távola redonda da corte do Rei Artur. A história de Tristão e Isolda provavelmente influenciou outra grande história de amor trágico medieval, a que envolve Lancelote e a Rainha Genebra. A partir do século XIX até os dias de hoje o mito voltou a ganhar importância na arte ocidental, influenciando desde a literatura até a ópera, o teatro e o cinema.
A Lenda
O mito de Tristão e Isolda foi retratado de diferentes maneiras na Idade Média. Em linhas gerais a história pode ser descrita assim: Tristão, excelente cavaleiro a serviço de seu tio, o rei Marcos da Cornualha, viaja à Irlanda para trazer a bela princesa Isolda para casar-se com seu tio. Durante a viagem de volta à Grã-Bretanha, os dois acidentalmente bebem uma poção de amor mágica, originalmente destinada a Isolda e Marcos. Devido a isso, Tristão e Isolda apaixonam-se perdidamente, de maneira irreversível, um pelo outro. De volta à corte, Isolda casa-se com Marcos, mas Isolda e Tristão mantêm um romance que viola as leis temporais e religiosas escandalizando a todos. Tristão termina banido do reino, casando-se com Isolda das Mãos Brancas, princesa da Bretanha, mas seu amor pela outra Isolda não termina. Depois de muitas aventuras, Tristão é mortalmente ferido por uma lança e manda que busquem Isolda para curá-lo de suas feridas. Enquanto ela vem a caminho, a esposa de Tristão, Isolda das Mãos Brancas, engana-o, fazendo-o acreditar que Isolda não viria para vê-lo. Tristão morre, e Isolda, ao encontrá-lo morto, morre também de tristeza."

A ópera
"A ópera Tristão e Isolda tornou-se um marco na história da música e certamente foi escrita cinquenta anos à frente de seu tempo. A textura musical de Tristão é diferente de qualquer outro trabalho de Wagner, aonde se destaca um complexo de harmonias cromáticas, dissonâncias e uma narrativa musical num estilo tipicamente sinfônico. O compositor não nos conta uma lenda, mas nos apresenta um psicodrama aonde a realidade externa e visível é representada no palco. O invisível, o íntimo intangível da mesma realidade é articulado pela música. Verdi, que nunca escondeu sua admiração pela obra de Richard Wagner declarou: Até hoje não entendi como esta música foi criada por um simples ser humano." Arthur Torelly Franco

Possivelmente e provavelmente, as distintas relações das personagens do filme permitiram a Lars von Trier o emprego de tão bela composição em sua obra-prima cinematográfica, especialmente a "relação" de Justine (Kirsten Dunst) com Michael (Alexander Skarsgard), seu noivo/marido. É evidente que von Trier emprega essa ópera não apenas devido aos diversos relacionamentos "frustrados", porém, essa pode ser uma das razões... Como introduzimos a personagem Justine, falemos um pouco dela. Conheço essa personagem por meio da peça de teatro do grupo Satyros, exatamente intitulada "Justine".  Ela é uma das personagens criadas pelo Marquês de Sade (1740-1814):
"Duas personagens criadas por Sade foram suas ideias fixas durante décadas: Justine (que se materializou em várias versões de romance, ocupando muitos volumes), a ingênua defensora do bem, que sempre acaba sendo envolvida em crimes e depravações, terminando seus dias fulminada por um raio que a rompe da boca ao ânus quando ia à missa, e Juliette, sua irmã, que encarna o triunfo do mal, fazendo uma sucessão de coisas abjetas, como matar uma de suas melhores amigas lançando-a na cratera de um vulcão ou obrigar o próprio papa a fazer um discurso em defesa do crime para poder tê-la em sua cama."

Antes de continuar elaborando alguns comentários a respeito do filme "Melancolia", a interpretação de Andressa Cabral na peça "Justine" é simplesmente monstruosa. Grande atriz, grande mulher... Quem não a viu, vá vê-la porque é imperdível! 
Retornando ao filme "Melancolia": Justine interpretada divinamente bem por Kirsten Dunst até pode ser uma mulher melancólica, depressiva, mas mais do que isso é alguém que sente como vivemos tempos duros, impiedosos, cruéis, isto é, tempos onde nos encontramos doentes, fechados, trancafiados em telas de celulares, de tablets, iphones, ipods... Estamos virando máquinas e não olhamos mais ao redor, não dizemos mais "bom-dia", não apreciamos como é bom comer um pacote de picoca sentados em uma simples praça pública. Essas ações/comentários são piegas, porém lúcidos... Ás vezes, um pouco de pieguice pode ser bom para nossas míseras vidas! A meu ver, Justine é uma espécie de para-raios da sociedade atual. Não à toa as cenas revelando sua intensa relação com a natureza/a vida. Destaco aqui a cena em que fica nua "recebendo os raios" do planeta Melancolia ao se aproximar da Terra. 
Além de Justine, Claire (Charlotte Gainsbourg) nos proporciona outra espetáculo de interpretação, especialmente, na cena final. Lars von Trier afirmou que talvez não sejam duas mulheres, mas dois lados de uma mulher. Essa ideia me parece interessante se partirmos do conceito de que vivemos em tempos de identidades múltiplas, multifacetas (Stuart Hall, A identidade cultural na pós-modernidade). Gosto muitíssimo também das falas da mãe de Justine e Claire, Gaby (Charlotte Rampling). Apesar de serem enunciados extremamente difíceis de serem ouvidos, são de uma lucidez inacreditável. Por que sempre precisamos ser politicamente corretos? Às vezes, um pouco de impolidez é fulcral!
Ao conversar com minha querida amiga com quem fui assistir ao filme, ela comentou que os homens do filme são fracos. Adorei esse comentário. O pai é um louco, doente, desmemoriado, terá mal de alzheimer?... O chefe de Justine, um escroto, um típico neoliberal... O noivo/marido, um fraco, apesar de toda sua beleza física... O marido de Claire, outro débil, apesar de sua intelectualidade... Os homens do filme "Melancolia" não tem o brilho que Justine, Claire e Gaby possuem. Talvez o único que possua esse brilho seja o sobrinho de Justine, filho de Claire, um menino adorável e lindo que inventa um simples objeto a fim de mostrar o quanto o planeta Melancolia estava aproximando-se/afastando-se da Terra. Sacada genial o simples objeto criado por esse menino!
A respeito das cenas, além do genial prólogo, as cenas do casamento, para mim, são divertidíssimos. Revelam essa sociedade hipócrita, nojenta, cheia de regras e de mecanismos de castração onde vivemos. Ademais, a cena em que desenham em balões, acendem suas tochas e eles dançam no céu é divina; como também as cenas em que caem cinzas do céu, em que aparecem as duas luas em tons azulados e quando se inicia a chuva de granizo quase ao final do filme. Todas essas cenas são de um lirismo inesquecível! E a pequena cabana criada por Justine é belíssima... Enfim, como comentei com alguns amigos, de minha singela perspectiva, obra-prima de primeira categoria, ou seja, um dos melhores filmes de 2011. 
Para terminar e lançar uma pequena provocação, apenas me questiono: o que poderemos fazer para sobreviver e suportar tempos tão desumanos e desafetivos? 
Um abraço afetuoso a todos,
Marcos.

Aproveitem e vejam que lindo (o youtube serve pra isso mesmo, rs...):
http://youtu.be/QrcpxETbDxg

P.S.: Se ainda não leram o artigo de Daniel Piza (Ensaios d´amor) dessa semana - domingo, 18/09/2011 - publicado em "O Estado de São Paulo", procurem-no na web porque está imperdível!       
 

domingo, 18 de setembro de 2011

BELEZA AMERICANA: GOSTARIA QUE A VIDA FOSSE DESSA FORMA...

Adoro essa cena do filme "Beleza Americana" (1999) do Sam Mendes (1965). Gostaria que essa simplicidade atravessasse nossas vidas nas mais diversas instâncias... 

http://youtu.be/8zk4bOxQsAw

A DUPLA VIDA DE VÉRONIQUE

Inicio meu (nosso) espaço cinematográfico com uma das cenas mais poéticas do cinema atual, pelo menos, de minha perspectiva: A dupla vida de Véronique de Krzysztof Kieslowski (1941-1996).

http://youtu.be/TEVlDb43v-4 acesso em 18/09/2011.


A Dupla Vida de Véronique (Krzysztof Kieslowski, 1991)

15 de junho de 2009

A Dupla Vida de Véronique (Krzysztof Kieslowski, 1991)


O encontro de opostos inconciliáveis: analisando A Dupla Vida de Véronique

Mágico e poético, A Dupla Vida de Véronique é um filme habilmente concebido de forma a ser escorregadio a teorias e explicações lógicas, que não conseguem se apoiar nele, tendo uma voz própria e única. Essa capacidade do diretor Krzystof Kieslowski de fazer filmes vagos, que se completam dentro dos espectadores, coloca seu nome dentre um dos mais influentes cineastas contemporâneos, que deixou uma das obras mais ricas e complexas com sua morte em 1995.
O filme de Kieslowski promove uma sensível experiência sensorial que deixa lacunas propositais em sua história e simbolismos, e que em momento algum pretende preenchê-las. O encanto do filme surge no mistério da vida dupla, que é lançado e não respondido, e nos silêncios, que revelam mais que diálogos. Deixando o sobrenatural de lado, impregna a realidade com magia, e a câmera capta a vida interior turbilhante de suas personagens.
Resumo do filme
Ele segue as vidas paralelas de duas jovens interpretadas por Irène Jacob: uma polonesa chamada Weronika, e uma francesa, Véronique. Apesar de não terem nenhuma ligação aparente, as duas são idênticas fisicamente, têm traços de personalidade iguais e parecem ter consciência uma da outra; como duplos uma da outra. Elas nunca se encontram, exceto por um breve momento fortuito através da janela de um ônibus em Cracóvia, momento esse que passa despercebido por Véronique, mas não para Weronika.
Weronika muda-se para a casa de sua tia e consegue entrar numa orquestra sinfônica devido ao seu talento como cantora. Reconcilia-se com um ex-namorado que encontra casualmente enquanto está no ônibus. Saindo de um dos testes de música, passa por uma praça de Cracóvia onde acontece um protesto violento. Um ônibus turístico está pra partir devido ao tumulto, e, dentre os turistas, Weronika encontra Véronique, que está tirando fotos e não a percebe. O ônibus parte e as duas não travam contato. Weronika começa a ter sinais de saúde debilitada e morre durante sua estreia na sinfônica, devido a um ataque cardíaco.
O filme passa então a acompanhar a vida de Véronique na França, que abandona suas aulas de canto, procura um cardiologista e tenta encontrar um novo caminho para sua vida. Ela diz ao seu pai que sente que algo lhe falta, mas não consegue identificar esse sentimento. Na escola onde trabalha conhece um titereiro escritor, chamado Alexandre Fabbri, que a conquista deixando pistas de suas obras literárias, num jogo poético de perseguição entre dois amantes. Com as pistas que ele deixa, Véronique o encontra e fica visivelmente desencantada com o final do suspense, mesmo com ela ciente o tempo todo de quem era seu admirador. Em seguida, ela parte e Fabbri a persegue. Encontram-se, hospedam-se num quarto de hotel e lá eles se perguntam o porquê da atração mútua.
Durante a conversa, Alexandre encontra fotos da viagem de Véronique à Polônia, dentre as quais está a foto de Weronika, que ela não havia notado antes. Ela então identifica sua sensação de perda, tomando consciência da existência de seu duplo e começa a chorar, enquanto ele se põe a fazer amor com ela. Ao final, fascinado com sua dupla vida, Fabbri cria uma história sobre Véronique e seu duplo, que é fiel à história real, mesmo sem ele saber qual é a verdade. Ela parte em silêncio e volta à casa do pai, pois agora ela pode explicar seu sentimento antes desconhecido.
Uma cena de desenvolvimento das personagens é protagonizada por uma senhora idosa, que serve como forma de ilustrar a relação das personagens com a velhice e morte: essa velha aparece em dois momentos do filme, na vida de cada uma das mulheres, e cada uma reage de uma forma(1). Ambas a veem pela janela; Weronika tenta conversar com a senhora, enquanto Véronique a deixa passar sem chamar sua atenção. Supõe-se que Weronika é aberta a novidades, ao inesperado, e sua atitude ao chamar a atenção da velha insinua a interpretação que ela não tem medo do que o futuro lhe reserva. Dessa forma, Weronika se revela uma pessoa mais livre e consciente do futuro, ao passo que Véronique deixa a velha passar quieta, apenas admirando-a, demonstrando uma característica mais tarde explicitada pelo titereiro: ela não experimenta coisas, ela tem consciência do que é ruim e se reserva devido à ligação com Weronika.
Weronika é uma alma mais livre, mais impetuosa e que experimenta as coisas. Através da ligação de ambas, Véronique sente as consequências das experiências sem passar por elas, deixando-a precavida em relação ao que pode acontecer, mas não as vivendo de fato. Desta maneira, Véronique se sente incompleta sem Weronika, mas, com sua morte, ela está livre para viver uma vida plena e com experiências próprias.
A mise-en-scène
Objetos imbuídos de grande carga emocional são comuns às duas – como uma bolinha transparente que possuem – e também gestuais únicos, como acariciar os cílios com um anel. Gestos tão únicos e misteriosos divididos por duas mulheres diferentes, porém iguais. Essas peculiaridades que ambas compartilham faz parte do grande mistério do filme: Véronique e Weronika seriam a mesma pessoa, almas gêmeas separadas, duas vidas alternativas do mesmo indivíduo compartilhando o mesmo tempo e espaço? Isso não importa para Kieslowski, que se preocupa em tirar o poético dessas ocasiões que só podem ser concebidas na esfera das artes.
O diretor do filme surge como figura divina, uma vez que essas vidas duplas e interligadas, e que cada uma segue à sua própria maneira, só poderia ser desenvolvida e concebida no próprio cinema, com o uso hábil do dispositivo cinematográfico. Nos filmes de Kieslowski é possível sentir a presença de uma força maior que controla os destinos dos personagens. Essa força, que não é opressiva, porém paternal, pode ser interpretada como a própria presença do diretor. Dentro do filme, ele seria bem representado pelo titereiro, que guia os passos de Véronique até ele próprio.
A Dupla Vida de Véronique proporciona o encontro das antíteses, a união entre opostos aparentemente inconciliáveis, em diversos momentos. A cena da descoberta da foto de Weronika mostra o encontro entre a dor da falta e o prazer da identificação do sentimento. Em seguida, Véronique relutantemente cede ao sexo com Fabbri, proporcionando a união em cena da realização espiritual com a realização carnal. A morte de Weronika durante a realização plena da música que tanto lhe dá prazer pessoal também é característico desses encontros impossíveis, assim como a cena final, na qual Véronique volta para a casa do pai e seu encontro com ele é simbolizado pelo toque dela na árvore; ela volta às suas raízes, agora ciente de sua transcendência, simbolizada pelo céu.
De forma mais sutil, o encontro de opostos é representado também no uso dos quatro elementos da Antiguidade: água, fogo, ar e terra. Como já foi dito da cena final, ar e terra são postos lado a lado quando ocorre o encontro do que eles simbolizam; o céu representa a transcendência, enquanto a terra, representada pela árvore e a madeira trabalhada pelo pai, surge como a materialidade. E no início do filme, Weronika toma chuva enquanto acaba a canção do coral, que cantava a céu aberto, e sai correndo. Quando encontra seu amante e fazem amor, é possível ver o vapor saindo de seus cabelos.
O filme apresenta uma sensorialidade apelativa, num jogo cênico que insinua o uso de outros sentidos no ato de assistir ao filme além da visão e audição; insinuações ao olfato aparecem no momento em que o pai de Véronique pede para ela sentir seu perfume novo e ela o prova no nariz dele, numa cena aconchegante e carinhosa; o uso de tecidos texturizados, como renda, e a atenção dedicada pela câmera ao toque constante das personagens nos cenários e sua interação com objetos cênicos remetem ao tato. Já os sentidos de uso constante do espectador para um filme – visão e audição – são agraciados com uma fotografia belíssima em tons dourados e a música original do filme remete às grandes obras sinfônicas clássicas. Tudo conspirando para uma experiência sensorial como pouco se testemunha no cinema.
A virtualidade
Kieslowski já usou ideia semelhante ao explorar possíveis caminhos na vida de uma pessoa, em seu filme polonês Sorte Cega, que mostra três possibilidades da vida de um homem diante de um momento banal: a corrida atrás de um trem. Em uma das possibilidades, ele pega o trem, conhece um comunista e se torna um ativista. Em outra variação ele tromba com um guarda e é preso. Por último, ele perde o trem e conhece uma mulher, com a qual passa a levar uma vida tranquila. Ideia semelhante é desenvolvida em filmes recentes, como Corra, Lola, Corra, O Advogado do Diabo, Femme Fatale, Feitiço do Tempo, entre outros.
Outro filme de Kieslowski que também lida com a questão de vidas duplas é A Fraternidade É Vermelha, no qual um juiz conta sua história a uma modelo e, durante o filme, vemos os mesmos eventos acontecerem na vida de outra pessoa, no tempo presente. Parecem ser os mesmos personagens em diferentes momentos na linha temporal, em uma revisão do tema de A Dupla Vida de Véronique.
Kieslowski antecipa um tema que se torna recorrente no cinema mais recente, o da virtualidade, no qual várias possibilidades de uma vida se tornam possíveis. Esse assunto se encontra em voga devido ao advento da informática e dos jogos, nos quais vida e morte se tornam start e game over, numa possibilidade contínua de voltar ao momento da morte e tentar o sucesso mais uma vez.
Sentimento sobre razão
A cena onde Véronique encontra seu pai que acabou de sair do banho, enrolado em uma toalha e pede para sentir seu perfume é uma cena que simboliza a forma livre do filme, de não se prender a teorias. Com uma leitura psicanalítica do filme, é possível fazer uma interpretação erótica entre a figura de pai e filha, uma representação do complexo de Electra quase explícita. No entanto, essa visão não parece se encaixar quando pensamos no quadro total tecido pelo filme, uma história poética e sensível que é forte e persistente, que não se abala com a frieza de uma leitura psicológica ou teórica.
O filme é feito com poucos diálogos e o histórico das personagens é sempre sugerido através de frases vagas, nunca explicado minuciosamente. Essas lacunas deixam espaço aberto para a imaginação do espectador e também à sensorialidade do filme, uma vez que ao ser praticamente não-verbal, é também não mental, requerendo menos da lógica do espectador e permitindo que ele se abra para novas experiências fílmicas.
O filme de Kieslowski lida com o tema da morte real e simbólica, a transformação radical que surge a partir da possibilidade da morte. Ele desdobra a personagem para tratar da questão do duplo. Kieslowski utiliza a virtualidade permitida pelo dispositivo cinematográfico para abrir um leque de possibilidades.
Levando em conta a teoria animista, que considera a alma simultaneamente princípio de vida orgânica e psíquica, e que a origem da noção de alma está nas experiências do adormecimento, da doença, da morte e, sobretudo, dos sonhos, que levam a imaginar a existência de um duplo insubstancial do corpo, Kieslowski cria um filme sensorial, com alma e vida próprias, no qual teorias cinematográficas não conseguem se apoiar consistentemente e exibe a união das antíteses e uma série de encontros “impossíveis” entre opostos incompatíveis: dor e prazer, transcendência e materialidade, morte e vida.
Roger Mestriner é mestrando em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
(1) Essa cena com a senhora idosa remete também aos filmes seguintes de Kieslowski – A Liberdade é Azul, A Igualdade É Branca e A Fraternidade é Vermelha – onde uma senhora idosa tenta colocar uma garrafa no lixo reciclável e os personagens testemunham seu esforço. Apenas em A Fraternidade é Vermelha a senhora é auxiliada.