Minhas memórias
cinematográficas
Memória número 1: PUERIL
Eu,
Marcos, quando criança, todos os dias assistia ao desenho animado do “Pinóquio” na
TV Record, na época em que esta ainda não pertencia à Igreja Universal. Nesses
momentos, lágrimas corriam de meus olhos porque eu não gostava nem um pouco de como
esse boneco tratava seu vovozinho, não gostava das travessuras que ele
aprontava com o pobre velhinho, especialmente quando ele desaparecia e o pobre
ancião ficava desesperado à sua procura. Em minha remota lembrança, minha
mãe me via chorando e me dizia: “Você não verá mais esse desenho! Vou desligar
a televisão…”. Acho que enxugava minhas lágrimas e tentava me recompor… É
evidente que, nessa época, identificava o vovozinho do Pinóquio a meu querido
avô que eu via todos os finais de semana e com quem eu tinha uma relação de
afeto gigantesca. Geralmente, passava os finais de semana com ele e aos
domingos, aos finais das tardes, no momento de nos despedirmos e eu ir embora,
eram lágrimas minhas de um lado e lágrimas dele de outro.
A
imagem do vovozinho e do Pinóquio são imagens que me comovem até hoje.
Inclusive, curioso dizer que quando assisti ao longa-metragem “Inteligência
Artificial” de Steven Spielberg, emocionei-me profundamente quando o
menino/boneco encontra-se com a Fada Azul… Referência direta à história do
Pinóquio e lágrimas mais uma vez correram de meus olhos, de meu corpo, de meu
ser, de meu íntimo...
Memória número 2: ADOLESCENTE
Minha
família não tinha o hábito de ir ao cinema. Contudo, via muito a TV e
especialmente a Sessão da Tarde da Rede Globo, na época em que não somente
exibia blockbusters. Dessa época há um filme ao qual assistia constantemente – dado
que os filmes eram repetidos com frequência – e que me lembro dele até hoje.
Trata-se do filme “O Pássaro Azul”. Não sei exatamente o motivo, porém gostava desse
longa, ou melhor, gostava da espécie de saga daqueles dois irmãos pela terra,
pelo céu, pelos mais distintos lugares e, finalmente, do retorno à casa deles,
onde após procurarem pelos mais diversos rincões e pensarem que o pássaro azul
não existia, notam que este estava mais perto do que poderiam imaginar: em uma
gaiola em sua própria casa.
Quando
adolescente o filme que me tocou e me fez emocionar-me profundamente foi “A cor
púrpura” também de Steve Spielberg. Coincidência ou não, sei lá... mas, de uma
forma ou de outra, tanto “Inteligência Artificial” quanto “A cor púrpura” são dois filmes de Spielberg que tocaram no fundo
de meu ser. A história daquelas duas irmãs, duas negras, duas mulheres
separadas, a meu ver, de forma injusta, me fez perceber que eu gostava
“daquilo” que estava vendo na televisão, ou seja, esse filme é aquele que me
abriu as portas do cinema e talvez me comoveu tanto por tratar de uma história
de “separação”, como a que acontecia comigo e com meu avô todos os domingos aos
finais da tarde. Inclusive, até hoje, os domingos são dias nostálgicos para
mim... Nessa época, ainda não tinha o hábito de ir ao cinema, mas comecei a
alugar filmes em VHS e assisti a vários longas norte-americanos que abriram as
portas para eu me tornar o cinéfilo que sou hoje.
Memória número 3: UNIVERSITÁRIO
Já
adulto, aos meus 18 anos, comecei a fazer estágio em um prédio que fica na
esquina da Avenida Paulista com a Avenida Angélica. E ao fazer meu caminho a pé
do metro Consolação até ele, todos os dias, passava pelo Cinema Belas Artes –
na época, se não me engano, seu nome era esse. Que saudades!!! – e via as
imagens dos filmes em cartaz pintadas à mão – minha lembrança é esta, não sei
se de fato eram pintadas à mão ou não. Aquelas imagens dos filmes naqueles
cartazes me seduziam, me hipnotizavam, era como se me chamassem e falassem comigo:
venha nos ver, rs... Até que em um determinado dia, decidi assistir ao filme “Retorno
a Howards End” e me encantei com aquela história, com a forma como se desenvolvia
aquela narrativa e é óbvio com aqueles dois atores que na época para mim eram
dois desconhecidos, ou melhor, estou me referindo a Anthony Hopkins e a Emma
Thompson. Após essa efetiva descoberta, comecei a ir com mais frequência ao
Cine Belas Artes. Aos sábados ou domingos, sempre assistia a algum filme de sua
programação. Eu adorava sair de minha casa, pegar o ônibus até o metro Santana,
tomar o metro em direção à região da Avenida Paulista, sair do metro e andar os
quarteirões que ligam a saída do metro Consolação até o Cine Belas Artes... Quanta
nostalgia de minha parte, porém, um texto como esse talvez me permita ser
nostálgico. No Belas Artes, conheci os diretores que marcam minha vida, isto é,
Pedro Almodóvar, Krzysztof Kieslowski e Alejandro González Iñarritú.
Em
1996, nesse mesmo cinema vi o filme da minha geração, um filme que me fascinou
pela forma como é construído, pelo tema tratado e, especialmente, pela trilha
sonora (adoro as trilhas dos filmes, às vezes, até mais do que o próprio filme):
estou me referindo a “Trainspotting”. Adorei esse longa não pela temática das
drogas tratadas, mas sim por retratar uma geração meio perdida, meio sem rumo,
um mundo em que predominam valores consumistas em que um grupo de jovens ficam
vendo trens passarem sem saber muito o que fazer de suas míseras vidas. Na
época gostei tanto do filme que comprei o CD com sua trilha sonora, o livro e
quando pude o DVD. Somente faltaram a camiseta e abrir um fã-clube do filme,
rs... algo que não realizei na época e nem realizarei mais. Enfim... acho que
escrevi muito. Mas somente para terminar talvez esse texto devesse se
chamar memórias de minhas lágrimas e/ou memórias de meu despertar para o
cinema.
Marcos Peter Pinheiro Eça, texto escrito
em outubro de 2012.
Abraço cinéfilo a todos,
Marcos.
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