domingo, 25 de agosto de 2013

BLING RING: A GANGUE DE HOLLYWOOD DE SOFIA COPPOLA

Estilo de vida? Culpados ou Vítimas? por Marcos Eça


O último filme de Sofia Coppola, Bling Ring: A gangue de Hollywood (2013), parte de fatos reais publicados no artigo “Os Suspeitos Vestiam Louboutins” (2010) de Nancy Jo Sales da Revista Vanity Fair. O longa-metragem traz um grupo de jovens de uma classe média abastada – mas não são ricos, nem milionários – que começa a invadir casas de celebridades de Hollywood. Todavia, não apenas ocorre a invasão uma vez que se deslumbram com a quantidade de peças de roupas, sapatos, bolsas, joias que essas celebridades possuem – a sensação é de estarmos em uma espécie de Daslu norte-americana no interior dessas residências – e começam a levar vários desses objetos como souvenirs a fim de ostentarem em seu dia a dia e nas tão “divertidas” baladas frequentadas por eles.  
Enquanto assistia ao filme dois fatos me chamaram a atenção. O primeiro deles é a facilidade com que esses jovens do filme conseguiam adentrar na casa das celebridades – ora encontravam uma porta aberta, uma chave embaixo de um tapete, ora abriam facilmente uma janela. Fiquei me perguntando: como é possível casas tão luxuosas e sofisticadas não terem alarmes? Não terem câmeras de segurança? (Essa pergunta foi respondida ao longo do filme). Não terem funcionários a fim de não serem roubadas? Talvez meu olhar seja um tanto “viciado”, um olhar de quem mora no Brasil, em São Paulo, onde quase sempre estamos preocupados com a questão dos assaltos. Como não conheço os Estados Unidos, a Califórnia, Los Angeles, não sei exatamente a resposta a essas questões. O outro fato que me desperta a atenção é de o filme começar com um rapaz, Marc (Israel Brussard), chegando à sua nova escola e me parecer um tanto deslocado, inseguro (o que é comum em alguns jovens ao se mudarem para uma nova escola), isto é, sentir-se meio “um patinho feio”, mas imediatamente parece ser fisgado por Rebecca (Katia Chang) que o introduz no mundo “descolado e divertido” de Los Angeles, ou melhor, passa a ser aceito por um grupo. No filme, Marc é a isca perfeita no lugar e momento perfeitos, o companheiro ideal para começarem as invasões, especialmente porque ele descobria por meio da internet quem estaria viajando ou fora de sua casa como também o endereço das celebridades.   
Para Luiz Carlos Merten “A gangue de Hollywood é sobre a superficialidade da vida moderna” (Em: O Estado de São Paulo, Caderno 2, C6, sexta-feira, 16 de agosto de 2013). Touché! Este pode ser um dos temas representados no filme. Contudo, para mim, há dois temas outros a serem abordados que são os seguintes: as questões identitárias e aquelas referentes ao hedonismo no mundo atual. Quando assisti ao filme de Sofia Coppola, lembrei-me do longa-metragem “Cidade dos Sonhos” (Mulholland Drive, 2001) de David Lynch por se passar em Los Angeles, em Hollywood, onde há duas personagens que são uma e/ou uma que é duas, ou seja, a meu ver o filme de Lynch aborda como somos/estamos multifacetados no mundo atual e como, frequentemente, lidar com esses vários “eus” pode ser complexo, especialmente no universo hollywoodiano e daqueles que se encontram a seu redor. Bling Ring não aborda esse tema de forma tão profunda e densa como no filme de Lynch, mas ao representar a vida desses jovens que moram na Califórnia, em Los Angeles, e vivem um processo de massificação imposto pela indústria hollywoodiana e por celebridades é possível dizer que suas identidades passam por processos de crise identitárias (como na da maioria dos adolescentes/jovens), ou melhor, quem são, quem querem ser, quais são seus valores no meio desse turbilhão festivo me parece ser algo elevado a um potência mais alta do que na sociedade em geral. Digo isto porque há um momento no filme em que a polícia começa a deter os “integrantes da gangue” e Nicki (Emma Watson, a atriz é a ex-personagem Hermione da série Harry Potter) se surpreende porque, de acordo com sua visão, ela não havia cometido delito algum.
O que gosto do cinema de Sofia Coppola é o fato de ela não julgar suas personagens, isto é, ela apenas coloca sua câmera e permite que tudo transcorra. Este poderia ser um filme em que ela apontasse o dedo afirmando que são jovens criminosos – eu não defendo os atos cometidos por eles, porém culpá-los é a solução? –, mas ela consegue retratá-los de uma forma “delicada”, quase “neutra”. Inclusive no mencionado texto de Merten, Sofia Coppola afirma: “uma coisa que não gosto de fazer é julgar minhas personagens. Prefiro entendê-las”. A meu ver, isto fico claro ao nos lembrarmos de seus filmes anteriores.
O hedonismo é outro tema que me parece estar presente no filme, ou melhor, em vários momentos os jovens estão em baladas “curtindo” aquele momento como se fosse o último de suas vidas. Sei que os jovens, geralmente, são um pouco extremados, porém o que me chama a atenção é o fato das noites serem tão intensas e tão frequentes em suas vidas. É claro que isso poderia ser visto em qualquer metrópole do mundo, inclusive em São Paulo, Rio de Janeiro, mas no filme há uma intensidade bem interessante a ser analisada. Aliado a tudo isto ainda há o deslumbramento por algumas celebridades como Paris Hilton – inclusive sua casa é “visitada” várias vezes –, Kirsten Dunst, Lindsay Lohan (condenada a 120 dias de prisão pelo roubo de um colar em uma joalheria e ídolo das jovens do filme), Orlando Bloom..., como se não fossem pessoas de carne e osso, mas deuses de um olimpo.            
Obra-prima Bling Ring? Não! Mas é um bom filme que nos faz pensar a respeito da sociedade em que vivemos e do quão complexa ela é, especialmente quando Marc afirma que só queriam ser parte do estilo de vida como as das celebridades de Hollywood. E agora, Marc, Rebecca e Nicki? A festa acabou? A luz apagou? E agora?  

Texto escrito por Marcos Peter Pinheiro Eça em agosto de 2013



Abraço cheio de dúvidas a todos,
Marcos Eça.

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