Estilo
de vida? Culpados ou Vítimas? por Marcos Eça
O último filme de Sofia Coppola, Bling
Ring: A gangue de Hollywood (2013), parte de fatos reais publicados no
artigo “Os Suspeitos Vestiam Louboutins” (2010) de Nancy Jo Sales da Revista Vanity Fair. O longa-metragem traz um
grupo de jovens de uma classe média abastada – mas não são ricos, nem
milionários – que começa a invadir casas de celebridades de Hollywood. Todavia,
não apenas ocorre a invasão uma vez que se deslumbram com a quantidade de peças
de roupas, sapatos, bolsas, joias que essas celebridades possuem – a sensação é
de estarmos em uma espécie de Daslu
norte-americana no interior dessas residências – e começam a levar vários
desses objetos como souvenirs a fim
de ostentarem em seu dia a dia e nas tão “divertidas” baladas frequentadas por
eles.
Enquanto assistia ao filme dois fatos me chamaram a atenção. O primeiro
deles é a facilidade com que esses jovens do filme conseguiam adentrar na casa
das celebridades – ora encontravam uma porta aberta, uma chave embaixo de um
tapete, ora abriam facilmente uma janela. Fiquei me perguntando: como é
possível casas tão luxuosas e sofisticadas não terem alarmes? Não terem câmeras
de segurança? (Essa pergunta foi respondida ao longo do filme). Não terem
funcionários a fim de não serem roubadas? Talvez meu olhar seja um tanto
“viciado”, um olhar de quem mora no Brasil, em São Paulo, onde quase sempre estamos
preocupados com a questão dos assaltos. Como não conheço os Estados Unidos, a
Califórnia, Los Angeles, não sei exatamente a resposta a essas questões. O outro
fato que me desperta a atenção é de o filme começar com um rapaz, Marc (Israel
Brussard), chegando à sua nova escola e me parecer um tanto deslocado, inseguro
(o que é comum em alguns jovens ao se mudarem para uma nova escola), isto é,
sentir-se meio “um patinho feio”, mas imediatamente parece ser fisgado por
Rebecca (Katia Chang) que o introduz no mundo “descolado e divertido” de Los
Angeles, ou melhor, passa a ser aceito por um grupo. No filme, Marc é a isca
perfeita no lugar e momento perfeitos, o companheiro ideal para começarem as
invasões, especialmente porque ele descobria por meio da internet quem estaria
viajando ou fora de sua casa como também o endereço das celebridades.
Para Luiz Carlos Merten “A gangue
de Hollywood é sobre a superficialidade da vida moderna” (Em: O Estado de São Paulo, Caderno 2, C6,
sexta-feira, 16 de agosto de 2013). Touché!
Este pode ser um dos temas representados no filme. Contudo, para mim, há dois temas
outros a serem abordados que são os seguintes: as questões identitárias e
aquelas referentes ao hedonismo no mundo atual. Quando assisti ao filme de
Sofia Coppola, lembrei-me do longa-metragem “Cidade dos Sonhos” (Mulholland
Drive, 2001) de David Lynch por se passar em Los Angeles, em Hollywood, onde há
duas personagens que são uma e/ou uma que é duas, ou seja, a meu ver o filme de
Lynch aborda como somos/estamos multifacetados no mundo atual e como,
frequentemente, lidar com esses vários “eus” pode ser complexo, especialmente
no universo hollywoodiano e daqueles que se encontram a seu redor. Bling Ring não aborda esse tema de forma
tão profunda e densa como no filme de Lynch, mas ao representar a vida desses
jovens que moram na Califórnia, em Los Angeles, e vivem um processo de
massificação imposto pela indústria hollywoodiana e por celebridades é possível
dizer que suas identidades passam por processos de crise identitárias (como na
da maioria dos adolescentes/jovens), ou melhor, quem são, quem querem ser,
quais são seus valores no meio desse turbilhão festivo me parece ser algo
elevado a um potência mais alta do que na sociedade em geral. Digo isto porque
há um momento no filme em que a polícia começa a deter os “integrantes da
gangue” e Nicki (Emma Watson, a atriz é a ex-personagem Hermione da série Harry
Potter) se surpreende porque, de acordo com sua visão, ela não havia cometido
delito algum.
O que gosto do cinema de Sofia Coppola é o fato de ela não julgar suas
personagens, isto é, ela apenas coloca sua câmera e permite que tudo transcorra.
Este poderia ser um filme em que ela apontasse o dedo afirmando que são jovens
criminosos – eu não defendo os atos cometidos por eles, porém culpá-los é a
solução? –, mas ela consegue retratá-los de uma forma “delicada”, quase
“neutra”. Inclusive no mencionado texto de Merten, Sofia Coppola afirma: “uma
coisa que não gosto de fazer é julgar minhas personagens. Prefiro entendê-las”.
A meu ver, isto fico claro ao nos lembrarmos de seus filmes anteriores.
O hedonismo é outro tema que me parece estar presente no filme, ou melhor,
em vários momentos os jovens estão em baladas “curtindo” aquele momento como se
fosse o último de suas vidas. Sei que os jovens, geralmente, são um pouco
extremados, porém o que me chama a atenção é o fato das noites serem tão
intensas e tão frequentes em suas vidas. É claro que isso poderia ser visto em
qualquer metrópole do mundo, inclusive em São Paulo, Rio de Janeiro, mas no
filme há uma intensidade bem interessante a ser analisada. Aliado a tudo isto
ainda há o deslumbramento por algumas celebridades como Paris Hilton –
inclusive sua casa é “visitada” várias vezes –, Kirsten Dunst, Lindsay Lohan (condenada
a 120 dias de prisão pelo roubo de um colar em uma joalheria e ídolo das jovens
do filme), Orlando Bloom..., como se não fossem pessoas de carne e osso, mas
deuses de um olimpo.
Obra-prima Bling Ring? Não! Mas
é um bom filme que nos faz pensar a respeito da sociedade em que vivemos e do
quão complexa ela é, especialmente quando Marc afirma que só queriam ser parte do estilo de vida como as das celebridades de
Hollywood. E agora, Marc, Rebecca e Nicki? A festa acabou? A luz apagou? E agora?
Texto escrito por Marcos Peter Pinheiro Eça em agosto de
2013
Abraço cheio de dúvidas a todos,
Marcos Eça.
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