domingo, 1 de setembro de 2013

FLORES RARAS, anotações...

FLORES RARAS



- O que me chamou a atenção é o fato de aquela fortaleza de mulher se tornar tão frágil, tão “fraca” após o término de sua relação com Elisabeth. Talvez eu espere uma linearidade da personagem... Pessoas muito fortes, podem esconder uma certa fraqueza. Talvez seja o caso de Lota.

Você Nunca Disse Eu te Amo, Flores Raras antes do 63º Festival de Berlim e volta agora a usar o primeiro nome

1951, Nova York. Elizabeth Bishop (Miranda Otto) é uma poetisa insegura e tímida, que apenas se sente à vontade ao narrar seus versos para o amigo Robert Lowell (Treat Williams). Em busca de algo que a motive, ela resolve partir para o Rio de Janeiro e passar uns dias na casa de uma colega de faculdade, Mary (Tracy Middendorf), que vive com a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares (Glória Pires). A princípio Elizabeth e Lota não se dão bem, mas logo se apaixonam uma pela outra. É o início de um romance acompanhado bem de perto por Mary, já que ela aceita a proposta de Lota para que adotem uma filha.

Esse projeto começou anos atrás, quando a sua mãe, Lucy, comprou os direitos do livro Flores Raras e Banalíssimas, de Carmem Lúcia de Oliveira. Mas como você se interessou pela história? Minha mãe comprou os direitos em meados da década de 1990 e propôs o filme a mim e ao Hector Babenco. Mas nenhum dos dois se interessou na época, eu nem li o livro. Em 2004, minha ex-mulher (a atriz Amy Irving), fez Um Porto para Elizabeth Bishop, monólogo da Marta Góes, nos Estados Unidos. Comecei a achar interessante, fiquei ruminando aquela ideia. Não sabia ainda para que contar a história. Em 2008, depois de Última Parada 174 e de ter me divorciado da Amy – nada acontece por acaso –, vi que queria contar a história porque falava da perda. Não é uma biografia. Lota e Elizabeth são personagens dessa história de amor. Uma história em que a forte fica fraca porque não sabe lidar com a perda, e a fraca, perdedora, vai ficando forte porque lida melhor com isso. Grandes momentos de suas vidas ocorrem quando elas estão juntas. Elizabeth ganha o Pulitzer, desabrocha como escritora, porque teve estabilidade emocional e material. Não é por causa do Brasil. E a Lota tem a ideia do parque do Flamengo (talvez a sua maior obra).

Crítica: Filme 'Flores Raras' é corajoso, mas não tão arrojado como pede a trama

SÉRGIO ALPENDRE

"Flores Raras", longa mais recente de Bruno Barreto, é baseado no romance real entre a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares (Glória Pires) e a poetisa norte-americana Elizabeth Bishop (Miranda Otto). Ambas moraram juntas em Petrópolis, entre as décadas de 1950 e 1960.
Há um momento que é raro dentro do cinema comercial brasileiro: quando Lota e Elizabeth voltam do passeio de carro no qual se tornaram amantes. No exato instante em que o carro estaciona na entrada da casa de Lota, a câmera faz um recuo inusitado para reenquadrar as duas na parte esquerda da tela, enquanto na parte direita se encontra Mary, companheira de Lota, sentada sozinha num sofá dentro da casa.
Esse tipo de movimento da câmera destoa da sobriedade que o diretor Bruno Barreto impõe a seu filme, mas ao mesmo tempo instaura um salutar respiro à narrativa, que até então estava a um passo do academicismo. Vemos a tela dividida entre o despertar de um romance e o ocaso de outro.

Um ocaso que, no entanto, não significa a saída de Mary, pois Lota quer manter as duas por perto. O preço a pagar é a adoção de uma criança, desejo de Mary com o qual Lota nunca havia concordado.

A tela dividida ainda espelha outras divisões: vemos personagens situadas entre Estados Unidos e Brasil; o compromisso e a liberdade; Petrópolis e a capital do Estado; a língua inglesa e a portuguesa.
Vemos também uma personagem, Lota, dividida entre o desejo carnal por Elizabeth e a segurança da antiga relação com Mary. Esta é precisamente a mesma situação que vive a personagem do melhor filme de Bruno Barreto, "Dona Flor e Seus Dois Maridos". Ali também vemos uma mulher dividida entre a segurança e a carnalidade.

"Flores Raras" se apoia na brilhante interpretação de Miranda Otto (que também está bela como nunca antes no cinema) e revela uma certa coragem no retrato do triângulo feminino.
Infelizmente, essa coragem não se sustenta o filme todo, pois Barreto é limitado pela segurança de um cinema de qualidade, baseado no cálculo e na pompa, sobretudo na segunda metade, justamente quando a história pedia algo mais arrojado, condizente com seu desassossego.

Elizabeth Bishop (1911-1979)
"Nunca me senti uma exilada, mas também nunca me senti exatamente em casa", disse a poeta ao "Christian Science Monitor", em 1978.
Bishop era uma crítica da desorganização do Brasil. Também dizia não entender o caráter pacato do povo. Em uma cena, ela comenta a passividade diante do golpe militar de 1964.
sua estada no Rio se prolongara porque ela teve de ser internada em um hospital, em consequência de uma reação alérgica a um caju

Maria Carlota de Macedo Soares 
Urbanista e paisagista brasileira Lota de Macedo Soares (1910-1967)
"Lota era uma mulher extremamente masculinizada, mas feminina nos seus gostos. Enquanto trabalhava no aterro do Flamengo, fazia questão de almoçar com talheres de prata e porcelana inglesa", diz Glória Pires.

O retrato de Lacerda, aliás, é uma das maiores inconsistências históricas do enredo, edulcorando a figura do político, conspirador de primeira hora, quando governador da então Guanabara, a favor do golpe de 1964. Este e outros aspectos passam ao largo, atenuando-se o lado mais polêmico de Lacerda, apresentado como um intelectual tranquilo, que falava tão bem o inglês, além de um governador de visão, que chamou Lota para idealizar o Parque do Flamengo.

Neusa Barbosa, do Cineweb

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