Após assistir ao filme "Flores Raras", enviaram-me o seguinte poema de Elisabeth Bishop.
UMA ARTE
A arte de perder não é nenhum mistério
tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouco a cada dia. Aceite austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subsequente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. Um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você ( a voz, o ar etéreo, que eu amo)
não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser um mistério
por muito que pareça (escreve) muito sério.
(Elizabeth Bishop; tradução de Paulo Henriques Brito)
Após lê-lo fico estremecido porque se eu começar a aprender a arte de perder, talvez sofra um pouco menos...
Abraço perdido,
Marcos Eça.
Um blog que aborda questões relativas a artes em geral: cinema, música, literatura, teatro, arquitetura, fotografia, artes plásticas...
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Está difícil andar de carro em São Paulo? Vá de ônibus!
Está difícil andar de carro em São Paulo? Vá de ônibus!
Leonardo Sakamoto
Como não acredito em inferno, não faz diferença mesmo. Mas certamente deve haver algum mar de enxofre e fogo preparado para quem, como eu, abriu um sorriso quando ouviu no rádio, nesta manhã, um motorista reclamando que a vida dele havia se tornado um inferno com a implementação de faixas exclusivas para ônibus. Na sua opinião, a cidade estava pior por conta disso.
Ao mesmo tempo, os ônibus fluíam com velocidade acima do normal para o horário, transportando quem não tem um possante e, portanto, não pode ir para o trabalho ou a escola cantando Michel Teló, sob o clima agradável do ar condicionado e tuitando – enquanto dirige – que São Paulo não vai para frente por falta de cidadania.
O ideal seria melhorar o transporte coletivo para, daí então, sacrificar o individual? Sim claro. Mas também seria ideal que Gargamel parasse de perseguir os Smurfs, não é mesmo? Os recursos públicos são escassos e, por isso, faz-se necessário apontar prioridades ao invés de fantasiar uma situação que nunca vai acontecer. É escolher um dos dois.
Sob qualquer ótica que não seja a do puro egoísmo, o transporte coletivo deveria ter prioridade em uma metrópole como a capital paulista. Por isso, tenho uma preguiça-monstro quando ouço alguém reclamar que a implantação de faixas exclusivas está tornando a vida dele ou dela um inferno. Ou quando esse mesmo alguém diz que aumentar o congestionamento dos automóveis para diminuir o dos ônibus tolhe o direito de ir e vir de quem tem carro.
E afirma, de forma bem canalha, que ele é uma minoria e uma democracia verdadeira respeita os direitos das minorias. Como se não fosse a minoria numérica a que ele pertence quem exerce, na prática, o direito à mobilidade por aqui desde sempre. E como se o respeito a esse conceito deturpado de “dignidade” da minoria motorizada não mantivesse a maioria pedestre muito distante de qualquer conceito de dignidade.
Não, este post não é para fazer uma discussão de uma São Paulo sem carro, coisa que aparece sempre neste espaço. Muito menos debater sobre direitos e políticas públicas. Ou arrotar regras. Se você se sente realizado comprando um automóvel maior do que as suas necessidades, vá em frente. Terapia é mais barato, mas vá lá. Particularmente, acabo adotando a mistura metrô, ônibus, táxi, car sharing no dia a dia (moro em um bairro que só tem pirambeira, então a bicicleta tem sido pouco usada).
Lembro muito bem das duas horas que eu levava para fazer o trajeto entre a escola onde estudava no ensino médio, no Pari, e a casa de meus pais no Campo Limpo. A falta de opções de qualidade e gratuitas levam a quem mora na periferia cruzar a cidade em busca de bons serviços públicos. Quantas vezes a viagem durou tanto e foi tão cansativa que dormia e acordava no ponto final não sei dizer. Isso quando ia sentado, é claro.
Quando inauguraram o corredor de ônibus Rebouças-Campo Limpo, nem usava mais esse trajeto, mas fiquei muito, muito feliz pelas pessoas que ainda o percorriam no dia-a-dia. E me lembro bem das estúpidas faixas de protesto colocadas por moradores dos Jardins contrárias ao corredor, temerosas da desvalorização imobiliária que ele traria. Para mim era quase impensável que alguns paulistanos fossem tão tacanhos assim. Depois, fui descobrindo que não, que o poço não tem fundo.
Meu pai, que ainda mora no Campo Limpo, pega metrô e ônibus diariamente para trabalhar. Fico pensando em tantos outros homens e mulheres com incontáveis fios de cabelos brancos que usam, por preferência ou necessidade, ônibus em longas distâncias. E de como temos sido lentos para garantir que possam ser tratados com dignidade. “Ah, mas os idosos andam de graça!” Isenção de tarifa não é um privilégio e, sim, um direito que conquistaram e que, aliás, deveria ser estendido ao restante da população – mas isso é outro debate. Agora, se forem checar as pesquisas de opinião junto aos moradores da cidade, o tempo de deslocamento e a qualidade do serviço estão no topo das reclamações. Mais até do que a tarifa.
De alguma forma, a classe média vai ter que começar a usar ônibus. E quando isso acontecer, ela, que é barulhenta e está abraçada com o poder econômico e político, aumentará o coro que chega da distante periferia quase como um sussurro. E, por isso, é ignorado. Daí, talvez, o transporte coletivo em São Paulo ganhe ares de decência e respeito. Se não sabem o que é decência nem respeito, dêem uma passada no final do dia na conexão entre as linhas verde e amarela do metrô.
Por fim, traduzindo, para quem não entendeu nada: Muito carro, ruim. Ônibus, metro, trem e bicicleta, amigos. A cada faixa de ônibus inaugurada que conseguir reduzir o tempo de deslocamento na cidade, uma família de pandas vai sorrir na China. E a cada carro que ficar na garagem, um grupo de anjinhos vai dançar ciranda no céu.
Em: http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2013/08/26/esta-dificil-andar-de-carro-em-sao-paulo-va-de-onibus/ acesso em 28/08/2013.
Abraço pensante a todos,
Marcos Eça.
domingo, 25 de agosto de 2013
BLING RING: A GANGUE DE HOLLYWOOD DE SOFIA COPPOLA
Estilo
de vida? Culpados ou Vítimas? por Marcos Eça
O último filme de Sofia Coppola, Bling
Ring: A gangue de Hollywood (2013), parte de fatos reais publicados no
artigo “Os Suspeitos Vestiam Louboutins” (2010) de Nancy Jo Sales da Revista Vanity Fair. O longa-metragem traz um
grupo de jovens de uma classe média abastada – mas não são ricos, nem
milionários – que começa a invadir casas de celebridades de Hollywood. Todavia,
não apenas ocorre a invasão uma vez que se deslumbram com a quantidade de peças
de roupas, sapatos, bolsas, joias que essas celebridades possuem – a sensação é
de estarmos em uma espécie de Daslu
norte-americana no interior dessas residências – e começam a levar vários
desses objetos como souvenirs a fim
de ostentarem em seu dia a dia e nas tão “divertidas” baladas frequentadas por
eles.
Enquanto assistia ao filme dois fatos me chamaram a atenção. O primeiro
deles é a facilidade com que esses jovens do filme conseguiam adentrar na casa
das celebridades – ora encontravam uma porta aberta, uma chave embaixo de um
tapete, ora abriam facilmente uma janela. Fiquei me perguntando: como é
possível casas tão luxuosas e sofisticadas não terem alarmes? Não terem câmeras
de segurança? (Essa pergunta foi respondida ao longo do filme). Não terem
funcionários a fim de não serem roubadas? Talvez meu olhar seja um tanto
“viciado”, um olhar de quem mora no Brasil, em São Paulo, onde quase sempre estamos
preocupados com a questão dos assaltos. Como não conheço os Estados Unidos, a
Califórnia, Los Angeles, não sei exatamente a resposta a essas questões. O outro
fato que me desperta a atenção é de o filme começar com um rapaz, Marc (Israel
Brussard), chegando à sua nova escola e me parecer um tanto deslocado, inseguro
(o que é comum em alguns jovens ao se mudarem para uma nova escola), isto é,
sentir-se meio “um patinho feio”, mas imediatamente parece ser fisgado por
Rebecca (Katia Chang) que o introduz no mundo “descolado e divertido” de Los
Angeles, ou melhor, passa a ser aceito por um grupo. No filme, Marc é a isca
perfeita no lugar e momento perfeitos, o companheiro ideal para começarem as
invasões, especialmente porque ele descobria por meio da internet quem estaria
viajando ou fora de sua casa como também o endereço das celebridades.
Para Luiz Carlos Merten “A gangue
de Hollywood é sobre a superficialidade da vida moderna” (Em: O Estado de São Paulo, Caderno 2, C6,
sexta-feira, 16 de agosto de 2013). Touché!
Este pode ser um dos temas representados no filme. Contudo, para mim, há dois temas
outros a serem abordados que são os seguintes: as questões identitárias e
aquelas referentes ao hedonismo no mundo atual. Quando assisti ao filme de
Sofia Coppola, lembrei-me do longa-metragem “Cidade dos Sonhos” (Mulholland
Drive, 2001) de David Lynch por se passar em Los Angeles, em Hollywood, onde há
duas personagens que são uma e/ou uma que é duas, ou seja, a meu ver o filme de
Lynch aborda como somos/estamos multifacetados no mundo atual e como,
frequentemente, lidar com esses vários “eus” pode ser complexo, especialmente
no universo hollywoodiano e daqueles que se encontram a seu redor. Bling Ring não aborda esse tema de forma
tão profunda e densa como no filme de Lynch, mas ao representar a vida desses
jovens que moram na Califórnia, em Los Angeles, e vivem um processo de
massificação imposto pela indústria hollywoodiana e por celebridades é possível
dizer que suas identidades passam por processos de crise identitárias (como na
da maioria dos adolescentes/jovens), ou melhor, quem são, quem querem ser,
quais são seus valores no meio desse turbilhão festivo me parece ser algo
elevado a um potência mais alta do que na sociedade em geral. Digo isto porque
há um momento no filme em que a polícia começa a deter os “integrantes da
gangue” e Nicki (Emma Watson, a atriz é a ex-personagem Hermione da série Harry
Potter) se surpreende porque, de acordo com sua visão, ela não havia cometido
delito algum.
O que gosto do cinema de Sofia Coppola é o fato de ela não julgar suas
personagens, isto é, ela apenas coloca sua câmera e permite que tudo transcorra.
Este poderia ser um filme em que ela apontasse o dedo afirmando que são jovens
criminosos – eu não defendo os atos cometidos por eles, porém culpá-los é a
solução? –, mas ela consegue retratá-los de uma forma “delicada”, quase
“neutra”. Inclusive no mencionado texto de Merten, Sofia Coppola afirma: “uma
coisa que não gosto de fazer é julgar minhas personagens. Prefiro entendê-las”.
A meu ver, isto fico claro ao nos lembrarmos de seus filmes anteriores.
O hedonismo é outro tema que me parece estar presente no filme, ou melhor,
em vários momentos os jovens estão em baladas “curtindo” aquele momento como se
fosse o último de suas vidas. Sei que os jovens, geralmente, são um pouco
extremados, porém o que me chama a atenção é o fato das noites serem tão
intensas e tão frequentes em suas vidas. É claro que isso poderia ser visto em
qualquer metrópole do mundo, inclusive em São Paulo, Rio de Janeiro, mas no
filme há uma intensidade bem interessante a ser analisada. Aliado a tudo isto
ainda há o deslumbramento por algumas celebridades como Paris Hilton –
inclusive sua casa é “visitada” várias vezes –, Kirsten Dunst, Lindsay Lohan (condenada
a 120 dias de prisão pelo roubo de um colar em uma joalheria e ídolo das jovens
do filme), Orlando Bloom..., como se não fossem pessoas de carne e osso, mas
deuses de um olimpo.
Obra-prima Bling Ring? Não! Mas
é um bom filme que nos faz pensar a respeito da sociedade em que vivemos e do
quão complexa ela é, especialmente quando Marc afirma que só queriam ser parte do estilo de vida como as das celebridades de
Hollywood. E agora, Marc, Rebecca e Nicki? A festa acabou? A luz apagou? E agora?
Texto escrito por Marcos Peter Pinheiro Eça em agosto de
2013
Abraço cheio de dúvidas a todos,
Marcos Eça.
FOLCLORE: TRABALHO REALIZADO POR MEUS ALUNOS
Belo trabalho realizado por meus alunos...
http://www.ciejavilasabrina.blogspot.com.br/2013/08/mes-do-folclore.html
Abraço docente a todos,
Marcos Eça.
http://www.ciejavilasabrina.blogspot.com.br/2013/08/mes-do-folclore.html
Abraço docente a todos,
Marcos Eça.
Esquenta de Regina Casé
O Esquenta é o programa mais conservador da televisão brasileira. É uma versão barulhenta e colorida de velhos costumes. Num primeiro olhar, parece uma grande festa na periferia, na qual as gírias, danças e modas de regiões com IDH baixo e criminalidade alta são irradiadas para todo o país pela tevê.
Vemos meninos contorcendo as articulações em performances de passinho, meninas com minissaia e microvocabulário, rapazes negros com cabelos louros e óculos espelhados de cores berrantes rodando o salão felizes e eufóricos. A festa mistura samba, funk, estilo de vida despreocupado e despudorado, concurso de beleza, humor, artistas de novela, enfim, para usar um termo bem periférico, “tudo junto e misturado”.
Essas características, apenas, não me incomodam. Não sou quadrado, respeito e até admiro algumas formas de cultura vindas do gueto e abuso do direito de desligar a TV. O que me irrita, e muito, e faz com que chame o programa de conservador e escravocrata é a cor de pele predominante nessa festa maluca.
Certamente o Esquenta é o programa com o maior percentual de negros da TV aberta. Enquanto as novelas, seriados e telejornais são predominantemente caucasianos, quem manda ali são os negros e pardos.
É esse o ponto. O programa reforça o estereótipo dos negros brasileiros como indivíduos suburbanos, subempregados, mas ainda assim felizes, sempre com um sorriso no rosto, esquecendo-se das mazelas cotidianas por meio da dança, do remelexo, das rimas pobres do funk, do mau gosto de penteados e cortes de cabelo extravagantes.
Sou negro e não sei sambar, não pinto meu cabelo de louro, não uso cordões, não ando gingando nem falo em dialeto. Não sou exceção, felizmente. Sei que há muitos caras e moças como eu. Muitos são poliglotas, outros gostam de música clássica, vários gostam mais de livros do que de pessoas, outros reclamam do calor da Brasil, certamente há os que são introspectivos e de poucas palavras, e há os que nem sentem falta do feijão quando viajam para o exterior.
Embora o Esquenta não tenha a proposta de ser um programa sobre cultura negra, ele ajuda a construir um estereótipo. Por que as novelas não têm galãs negros ou musas negras? Faça a lista dos galãs e das musas televisivas e depois veja quantos são negros. O número será irrisório.
O Esquenta ajuda a manter essa ordem. Em vez de rapazes elegantes, mostra dançarinos com cabelos bizarros. As moças, sempre de shorts minúsculos e prosódias vulgares, nunca serviriam de modelo para capas da Marie Claire ou da Claudia.
Regina Casé e seu programa parecem dizer aos jovens dos guetos: “Ei, isso mesmo, aprendam passinho, aprendam a rebolar até o chão, continuem com seu linguajar próprio, porque tudo isso é lindo, é legal, é Brasil, é tudo junto e misturado, continuem com seus empregos modestos, porque a vida é agora, é para ser vivida, curtida, com alegria, malemolência, sempre com um sorriso no rosto”.
E assim, aquela menina sentada no sofá vai continuar achando o máximo desfilar com pouca roupa e pelos das pernas pintados de loiros pela comunidade. Nunca vai pensar em aprender a falar alemão ou tentar entender os grafites de Banksy, da mesma forma que os rapazes nunca sonharão em trabalhar no Itamaraty e praticarão bullying contra os meninos polidos que não falam em dialeto e inventam de estudar violino, já que um programa televisivo de uma das principais emissoras do país legitima seu estilo de vida mal educado e de poucas perspectivas.
Como um coronel oligarca e cínico, o programa dá uma recado para a garotada negra e parda da periferia: “É isso, dancem, cantem, divirtam-se. Mas não saiam do seu lugar”.
Texto escrito por: Marcos Sacramento
Abraço pensante a todos,
Marcos Eça.
Vemos meninos contorcendo as articulações em performances de passinho, meninas com minissaia e microvocabulário, rapazes negros com cabelos louros e óculos espelhados de cores berrantes rodando o salão felizes e eufóricos. A festa mistura samba, funk, estilo de vida despreocupado e despudorado, concurso de beleza, humor, artistas de novela, enfim, para usar um termo bem periférico, “tudo junto e misturado”.
Essas características, apenas, não me incomodam. Não sou quadrado, respeito e até admiro algumas formas de cultura vindas do gueto e abuso do direito de desligar a TV. O que me irrita, e muito, e faz com que chame o programa de conservador e escravocrata é a cor de pele predominante nessa festa maluca.
Certamente o Esquenta é o programa com o maior percentual de negros da TV aberta. Enquanto as novelas, seriados e telejornais são predominantemente caucasianos, quem manda ali são os negros e pardos.
É esse o ponto. O programa reforça o estereótipo dos negros brasileiros como indivíduos suburbanos, subempregados, mas ainda assim felizes, sempre com um sorriso no rosto, esquecendo-se das mazelas cotidianas por meio da dança, do remelexo, das rimas pobres do funk, do mau gosto de penteados e cortes de cabelo extravagantes.
Sou negro e não sei sambar, não pinto meu cabelo de louro, não uso cordões, não ando gingando nem falo em dialeto. Não sou exceção, felizmente. Sei que há muitos caras e moças como eu. Muitos são poliglotas, outros gostam de música clássica, vários gostam mais de livros do que de pessoas, outros reclamam do calor da Brasil, certamente há os que são introspectivos e de poucas palavras, e há os que nem sentem falta do feijão quando viajam para o exterior.
Embora o Esquenta não tenha a proposta de ser um programa sobre cultura negra, ele ajuda a construir um estereótipo. Por que as novelas não têm galãs negros ou musas negras? Faça a lista dos galãs e das musas televisivas e depois veja quantos são negros. O número será irrisório.
O Esquenta ajuda a manter essa ordem. Em vez de rapazes elegantes, mostra dançarinos com cabelos bizarros. As moças, sempre de shorts minúsculos e prosódias vulgares, nunca serviriam de modelo para capas da Marie Claire ou da Claudia.
Regina Casé e seu programa parecem dizer aos jovens dos guetos: “Ei, isso mesmo, aprendam passinho, aprendam a rebolar até o chão, continuem com seu linguajar próprio, porque tudo isso é lindo, é legal, é Brasil, é tudo junto e misturado, continuem com seus empregos modestos, porque a vida é agora, é para ser vivida, curtida, com alegria, malemolência, sempre com um sorriso no rosto”.
E assim, aquela menina sentada no sofá vai continuar achando o máximo desfilar com pouca roupa e pelos das pernas pintados de loiros pela comunidade. Nunca vai pensar em aprender a falar alemão ou tentar entender os grafites de Banksy, da mesma forma que os rapazes nunca sonharão em trabalhar no Itamaraty e praticarão bullying contra os meninos polidos que não falam em dialeto e inventam de estudar violino, já que um programa televisivo de uma das principais emissoras do país legitima seu estilo de vida mal educado e de poucas perspectivas.
Como um coronel oligarca e cínico, o programa dá uma recado para a garotada negra e parda da periferia: “É isso, dancem, cantem, divirtam-se. Mas não saiam do seu lugar”.
Texto escrito por: Marcos Sacramento
Abraço pensante a todos,
Marcos Eça.
LIA DE ITAMARACÁ
LINDO DEMAIS...
http://www.youtube.com/watch?v=Srl2DaTrnsQ&list=FLKArpF84wtBi1ljVANvpxDA
Abraço musical a todos,
Marcos Eça.
http://www.youtube.com/watch?v=Srl2DaTrnsQ&list=FLKArpF84wtBi1ljVANvpxDA
Abraço musical a todos,
Marcos Eça.
TESE SOBRE UM HOMICÍDIO
Algumas anotações:
Tese sobre um homicídio de Hernán Goldfrid
1. Adorei o filme. Excelente cinema argentino. Isabela Boscov
acha que é um cinema argentino americanizado. Eu não achei. E se for, qual o
problema?
2. Logo no início percebi que estava começando pelo final, aquela
cena de desordem, meio caótica me remeteu à explicação de tudo aquilo.
3. Professor (ROBERTO BERMUDEZ) de direito rigoroso, com
horários, com suas aulas: aluno (GONZALO) que chega atrasado que é filho de um
conhecido seu.
4. Conversa entre os dois sobre a justiça: borboleta. “Gonzalo
apresenta logo de cara sua ousada tese: a sociedade só investiga os crimes na
medida em que eles sejam nocivos ao poder. E conclui: quantas borboletas são mortas todos os dias sem que ninguém se
importe com isso?” Inácio Araújo
5. A partir do assassinato de Valéria parece que um
quebra-cabeça começa a ser montado na mente do professor: há como uma espécie
de ideia fixa pra ele, ou seja, ele quer porque quer provar que seu aluno é o
assassino da moça. Lembrei-me de “Dom Casmurro” que começa a ver e procurar
indícios da traição de Capitu.
6. Porém, não vejo provas disso, vejo apenas o ACASO.
7. Dúvidas: a moeda (cara ou coroa) e a monografia do rapaz (o
que será que ele havia escrito, fiquei curioso, RS).
8. Para mim é um filme que aborda a questão de pontos de vista,
de ideias fixas, de “obsessões”. Às vezes ficamos tão cegos com algo que não
vemos outras possibilidades, outras perspectivas em relação ao que está a nosso
redor.
“... o verdadeiro objetivo de Gonzalo é lançar um desafio ao
professor: será ele capaz de investigar esse crime? Será capaz de passar da
teoria à prática com a desenvoltura (e a vaidade) com que apregoa seu saber
jurídico?Eis o que de fato está em questão: o desafio do discípulo ao mestre. Não estamos longe, como se pode ver, de Hitchcock em "Festim Diabólico": em ambos os casos, o assassinato é uma questão de disputa intelectual.” Inácio Araújo.
Abraço cinéfilo a todos,
Marcos Eça.
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