Magnífico...
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Abraço terapêutico a todos,
Marcos Eça.
Um blog que aborda questões relativas a artes em geral: cinema, música, literatura, teatro, arquitetura, fotografia, artes plásticas...
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
Modernidade triste?
Modernidade triste?
Contardo Calligaris
No século 4 da nossa era, nos mosteiros da Europa, a tristeza, "accidia" em latim, era considerada pecado grave, e as regras monásticas se esforçavam para identificá-la e combatê-la. Mesmo assim, muitos monges continuavam tristes.
A Europa era uma desolação. Das janelas de seus oásis de (relativa) tranquilidade, os monges podiam enxergar o horror. A cultura clássica, grega e romana, era esquecida --ignorada pela imensa maioria de iletrados ou perdida no descaso pelos manuscritos antigos. O desabamento do Império Romano transformara o território em uma terra de ninguém, em que o poder ficava com as hordas de mercenários e bandidos ocasionais. Suficiente para qualquer um ficar triste.
Mas talvez haja uma razão menos contingente para a tristeza aparecer como uma nova aflição, bem na hora em que a cultura clássica deixava seu lugar ao cristianismo. É irônico, aliás, que a dita tristeza ameaçasse logo os monges, que eram guardiões dos textos gregos e romanos que sobravam, mas que também praticavam o palimpsesto -- a arte de apagar os manuscritos antigos para usar os pergaminhos novamente, copiando os textos da nova religião.
Note-se também que, desde a acídia dos monges, a tristeza parece ter se tornado um traço distintivo da cultura ocidental e, especificamente, da modernidade, do "spleen" romântico até a depressão clínica, hoje diagnosticada a esmo. Por que, então, seríamos culturalmente tristes?
Naquele momento, no século 4, morria uma cultura para a qual o que importava era viver o momento, e nascia outra, para a qual nossa vida era apenas uma provação, pela qual ganharíamos ou perderíamos a chance de uma suposta eternidade feliz.
Desde então, é como se a vida que importa nunca mais fosse a que estamos vivendo; o pátio de casa não basta, somos infelizes e insatisfeitos porque a vida "verdadeira" nos espera lá onde ainda não chegamos.
A cultura clássica, que morria, tinha valorizado um estilo de vida norteado por um uso discreto e constante dos deleites da mente e da carne. A cultura cristã, que nascia, apontava no prazer um parente do vício e valorizava o sacrifício e a renúncia, como se Deus tivesse um apreço por nosso sofrimento.
Não sei por que Deus reconheceria algum mérito nas renúncias da gente. Freud responderia, provavelmente, que esta é a função social da religião: controlar nossos impulsos, impondo as renúncias que são necessárias para que a convivência social se torne possível. Muitos iluministas pensaram a mesma coisa.
Graças ao cristianismo, ao considerar castigos e recompensas na eternidade, nós nos tornaríamos governáveis -- sem medo do além, não haveria convívio possível (o paradoxo aqui é que essa consideração não inibiu a própria Igreja, que durante séculos e séculos foi uma instituição de crueldade inaudita).
A cultura clássica (Epicuro, por exemplo) preferia tratar os humanos como adultos e apostar que eles se disciplinariam sem ter que acreditar em um além e sem precisar de um mercado de punições e prêmios eternos: a consciência da finitude da vida seria suficiente para torná-los comedidos e dignos.
Em um jantar na casa de Thérèse Parisot, em dezembro de 1970 (sei a data pois a conversa foi sobre as condenações dos processos de Burgos), Jacques Lacan, o psicanalista francês, chegou com um pequeno volume in-octavo. Era um panfleto anônimo, segundo o qual o verdadeiro messias não era Cristo, mas Epicuro (peço que se manifestem os bibliófilos que reconhecerem o livro). Certamente, a obra era a provocação de um libertino dos séculos 17 ou 18.
Mas a questão continua valendo: será que uma modernidade seria possível sem a desvalorização do momento presente e sem a repulsa ao prazer que são partes da mensagem cristã e que talvez sejam a fonte de nossa tristeza crônica?
Qual modernidade seria possível com Epicuro, e não contra ele? Somos modernos graças ao cristianismo ou somos modernos graças ao materialismo e à disciplina dos prazeres que atravessaram a modernidade perseguidos e silenciados pelo cristianismo?
Para inventar uma resposta, um livro imperdível: dos ensaios que li nos últimos 15 anos, nenhum me prendeu e me tocou tanto quanto "A Virada, o Nascimento do Mundo Moderno", de Stephen Greenblatt.
Em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2013/09/1340409-modernidade-triste.shtml acesso em 12/09/2013.
Abraço pensante a todos,
Marcos Eça.
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
Crime e preconceito: mães e filhos de santo são expulsos de favelas por traficantes evangélicos
Crime e preconceito: mães e filhos de santo são expulsos de favelas por traficantes evangélicos
A roupa branca no varal era o único indício da religião da filha de santo, que, até 2010, morava no Morro do Amor, no Complexo do Lins. Iniciada no candomblé em 2005, ela logo soube que deveria esconder sua fé: os traficantes da favela, frequentadores de igrejas evangélicas, não toleravam a “macumba”. Terreiros, roupas brancas e adereços que denunciassem a crença já haviam sido proibidos, há pelo menos cinco anos, em todo o morro. Por isso, ela saía da favela rumo a seu terreiro, na Zona Oeste, sempre com roupas comuns. O vestido branco ia na bolsa. Um dia, por descuido, deixou a “roupa de santo” no varal. Na semana seguinte, saía da favela, expulsa pelos bandidos, para não mais voltar.
— Não dava mais para suportar as ameaças. Lá, ser do candomblé é proibido. Não existem mais terreiros e quem pratica a religião, o faz de modo clandestino — conta a filha de santo, que se mudou para a Zona Oeste.
A situação da mulher não é um ponto fora da curva: já há registros na Associação de Proteção dos Amigos e Adeptos do Culto Afro Brasileiro e Espírita de pelo menos 40 pais e mães de santo expulsos de favelas da Zona Norte pelo tráfico. Em alguns locais, como no Lins e na Serrinha, em Madureira, além do fechamento dos terreiros também foi determinada a proibição do uso de colares afro e roupas brancas. De acordo com quatro pais de santo ouvidos pelo EXTRA, que passaram pela situação, o motivo das expulsões é o mesmo: a conversão dos chefes do tráfico a denominações evangélicas.
Atabaques proibidos na Pavuna
A intolerância religiosa não é exclusividade de uma facção criminosa. Distante 13km do Lins e ocupada por um grupo rival, o Parque Colúmbia, na Pavuna, convive com a mesma realidade: a expulsão dos terreiros, acompanhados de perto pelo crescimento de igrejas evangélicas. Desinformada sobre as “regras locais”, uma mãe de santo tentou fundar, ali, seu terreiro. Logo, recebeu a visita do presidente da associação de moradores que a alertou: atabaques e despachos eram proibidos ali.
—Tive que sair fugida, porque tentei permanecer, só com consultas. Eles não gostaram — afirma.
A situação já é do conhecimento de pelo menos um órgão do governo: o Conselho Estadual de Direitos do Negro (Cedine), empossado pelo próprio governador. O presidente do órgão, Roberto dos Santos, admite que já foram encaminhadas denúncias ao Cedine:
— Já temos informações desse tipo. Mas a intolerância armada só pode ser vencida com a chegada do estado a esses locais, com as UPPs.
O deputado estadual Átila Nunes (PSL) fez um pedido formal, na última sexta-feira, para que a Secretaria de Segurança investigue os casos.
— Não se trata de disputa religiosa mas, sim, econômica. Líderes evangélicos não querem perder parte de seus rebanhos para outras religiões, e fazem a cabeça dos bandidos — afirma.
Nas favelas, os ‘guerreiros de Deus’
Fernando Gomes de Freitas, o Fernandinho Guarabu, chefe do tráfico no Morro do Dendê, ostenta, no antebraço direito, a tatuagem com o nome de Jesus Cristo. Pela casa, Bíblias por todos os lados. Já em seus domínios, reina o preconceito: enquanto os muros da favela foram preenchidos por dizeres bíblicos, os dez terreiros que funcionavam no local deixaram de existir.
Guarabu passou a frequentar a Assembleia de Deus Ministério Monte Sinai em 2006 e se converteu. A partir daí, quem andasse de branco pela favela era “convidado a sair”. Os pais de santo que ainda vivem no local não praticam mais a religião.
A situação se repete na Serrinha, ocupada pela mesma facção. No último dia 22, bandidos passaram a madrugada cobrindo imagens de santos nos muros da favela. Sobre a tinta fresca, agora lê-se: “Só Jesus salva”.
O babalaô Ivanir dos Santos, representante da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), criada justamente após casos de intolerância contra religiões afro-brasileiras em 2006, afirma que os casos serão discutido pelo grupo, que vai pressionar o governo e o Ministério Público para que a segurança do locais seja garantida e os responsáveis pelo ato sejam punidos. “Essas pessoas são criminosas e devem ser punidas. Cercear a fé é crime”, diz o pai de santo.
Lei mais severa
Desde novembro de 2008, a Polícia Civil considera como crimes inafiançáveis invasões a templos e agressões a religiosos de qualquer credo a Lei Caó. A partir de então, passou a vigorar no sistema das delegacias do estado a Lei 7.716/89, que determina que crimes de intolerância religiosa passem a ser respondidos em Varas Criminais e não mais nos Juizados Especiais. Atualmente, o crime não prescreve e a pena vai de um a três anos de detenção.
Filha de santo, que foi expulsa do Lins: ‘Não suportava mais fingir ser o que não era’.
— Me iniciei no candomblé em 2005. A partir de minha iniciação, comecei a ter problemas com os traficantes do Complexo do Lins. Quando cheguei à favela de cabeça raspada, por conta da iniciação, eles viravam o rosto quando eu passava. Com o tempo, as demostrações de intolerância aumentaram. Quando saía da favela vestida de branco, para ir ao terreiro que frequento, eles reclamavam. Um dia, um deles veio até a minha casa e disse que eu estava proibida de circular pela favela com aquelas “roupas do demônio”. As ameaças chegaram ao ponto de proibirem que eu pendurasse as roupas brancas no varal. Se eu desrespeitasse, seria expulsa de lá. No fim de 2010, dei um basta nisso. Não suportava mais fingir ser o que eu não era e saí de lá.
Mãe de santo há 30 anos, expulsa da Pavuna: ‘Disseram que quem mandava ali era o ‘Exército de Jesus”.
— Comprei, em 2009, um terreno no Parque Colúmbia, na Pavuna. No local,. não havia nada. Mas eu queria fundar um terreiro ali e comecei a construir. No início, só fazia consulta, jogava búzios e recebia pessoas. Não fazia festas nem sessões. Não andava de branco pelas ruas nem tocava atabaque, para não chamar a atenção. Um dia, o presidente da associação de moradores foi até o local e disse que o tráfico havia ordenado que eu parasse com a “macumba”. Ali, quem mandava na época era a facção de Acari. Já era mais de santo há 30 anos e não acreditei naquilo. Fui até a boca de fumo tentar argumentar. Dei de cara com vários bandidos com fuzis, que disseram que ali quem mandava era o “Exército de Jesus”. Disse que tinha acabado de comprar o terreno e que não iria incomodar ninguém. Dias depois, cheguei ao terreiro e vi uma placa escrito “Vende-se” na porta — eles tomaram o terreno e o puseram a venda. Não podia fazer nada. Vendi o terreno o mais rapidamente possível por R$ 2 mil e fui arrumar outro lugar.
Em: http://oglobo.globo.com/rio/crime-preconceito-maes-filhos-de-santo-sao-expulsos-de-favelas-por-traficantes-evangelicos-9868841 acesso em 09/09/2013.
Abraço não-preconceituoso,
Marcos Eça.
domingo, 8 de setembro de 2013
Bill Gates: “En cinco años las mejores clases del planeta estarán en la web”
Bill Gates: “En cinco años las mejores clases del planeta estarán en la web”
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
TOM AT THE FARM+XAVIER DOLAN
Novo longa-metragem de Xavier Dolan: Tom à la ferme, Tom at the farm, Tom na fazenda...
Adoro sua linguagem, sua estética.
Abraço dolaniano a todos,
Marcos Eça.
Adoro sua linguagem, sua estética.
Abraço dolaniano a todos,
Marcos Eça.
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
Se ouvir “Eu não sou preconceituoso, mas…”, corra para longe
Leonardo Sakamoto
Eu não sou preconceituoso, mas…
Esta frase é deliciosa. Não é um aviso de “olha, não encare isso como preconceito”, mas um alerta. Do tipo “segura, que lá vem um preconceito”. A ressalva, completamente inútil, serve, pelo contrário, para reforçar que a pessoa em questão é exatamente aquilo pelo qual não gostaria de ser tomada.
Cultivamos nosso medo e ódio, mas, às vezes, pega mal expressá-los em público assim, tão abertamente. Porque pode ser visto como crime ou delito. Ou ser alvo de críticas - mesmo que os críticos compartilhem da mesma visão de mundo. E, além do mais, como todos sabemos, o Brasil é o país da alegre miscigenação, em que todos são considerados iguais em direitos. Os que discordam disso devem se mudar ou levar um corretivo para deixarem de serem bestas. É isso: ame-o ou deixe-o.
É engraçado como o preconceituoso não se vê como tal. Quem solta um “Eu não sou preconceituoso, mas…” separa essa palavra de seu significado e pensa o preconceito como algo abstrato, etéreo. Uma ideia que não teria nada a ver com tratar pessoas de forma diferente ou fazer um julgamento prévio de seu caráter devido à sua classe social, orientação sexual, cor de pele, etnia, nacionalidade, identidade de gênero, pela presença de alguma deficiência e por aí vai.
Dizem que falta informação e, por isso, temos uma sociedade que pensa de forma tão tacanha. Que não temos contato com o “outro” e, portanto, continuamos a temê-lo e a achar que ele é um risco à nossa existência. Conscientizar sobre isso passa por estimular a vivência comum na sociedade, pela tentativa do conhecimento do outro. Tolerância é bom. Porém, legal mesmo não é apenas tolerar, mas acreditar que as diferenças tornam o mundo mais interessante e rico do que uma monotonia monocromática a que estamos subjugados pela religião, pela tradição, pelo preconceito…
E cabe tanta abobrinha em um “Eu não sou preconceituoso, mas…” que ele se tornou o novo “Amar é…”, presente naqueles livrinhos simpáticos da minha infância.
Duvida?
Eu não sou preconceituoso, mas bandido bom é bandido morto.
Eu não sou preconceituoso, mas baiano é foda. Quando não faz na entrada faz na saída.
Eu não sou preconceituoso, mas mulher no volante é um perigo.
Eu não sou preconceituoso, mas tenho medo desses escurinhos mal encarados qe pedem dinheiro no semáforo.
Eu não sou preconceituoso, mas cigano é tudo vagabundo.
Eu não sou preconceituoso, mas os gays podiam não se beijar em público. Assim, eles atraem a violência para eles.
Eu não sou preconceituoso, mas acho o ó ter um terreiro de macumba na nossa rua.
Eu não sou preconceituoso, mas é aquela coisa: não estudou, vira lixeiro.
Eu não sou preconceituoso, mas não gostaria de ver minha filha casada com um negro. Não por ele, é claro, mas eles sofreriam muito preconceito.
Eu não sou preconceituoso, mas esses sem-teto são todos vagabundos.
Eu não sou preconceituoso, mas chega de terra para índio, né? Se eles ainda produzissem para o país, mas nem isso acontece.
Eu não sou preconceituoso, mas esses mendigos deviam ir para a periferia onde não incomodariam ninguém.
Eu não sou preconceituoso, mas sabe como é esse pessoal de esquerda. É tudo petralha.
Eu não sou preconceituoso, mas sabe como é pessoal da direito. É tudo tucanalha.
Eu não sou preconceituoso, mas São Paulo é São Paulo, né amiga? Não é Fortaleza.
Eu não sou preconceituoso, mas esse aeroporto tá parecendo uma rodoviária.
Eu não sou preconceituoso, mas adoro esse shopping. Só tem gente bonita por aqui.
Eu não sou preconceituoso, mas sobe o vidro, amor. Você não tá nos Jardins.
Eu não sou preconceituosa, mas vocês não acham que essas médicas cubanas têm cara de empregada doméstica?
Cuidado, seja sutil. Preconceito é para ser dito, repetido e aplicado, mas com naturalidade. Diluído no dia a dia, aparece como uma forma de manter a ordem das coisas e de lembrar quem manda. E quem obedece.
Em: http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2013/09/01/se-ouvir-eu-nao-sou-preconceituoso-mas-corra-para-longe/ acesso em 02/09/2013.
Touché!
Abraço não-preconceituoso a todos,
Marcos Eça.
domingo, 1 de setembro de 2013
FLORES RARAS, anotações...
FLORES RARAS
- O que me chamou a atenção é o fato de aquela fortaleza de mulher se tornar tão frágil, tão “fraca” após o término de sua relação
com Elisabeth. Talvez eu espere uma linearidade da personagem...
Pessoas muito fortes, podem esconder uma certa fraqueza. Talvez seja o caso de
Lota.
Você Nunca Disse Eu te Amo, Flores Raras antes
do 63º Festival de Berlim e volta agora a usar o primeiro nome
1951, Nova York. Elizabeth Bishop (Miranda Otto) é uma poetisa insegura e
tímida, que apenas se sente à vontade ao narrar seus versos para o amigo Robert
Lowell (Treat Williams). Em busca de algo que a motive, ela resolve partir para
o Rio de Janeiro e passar uns dias na casa de uma colega de faculdade, Mary
(Tracy Middendorf), que vive com a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares
(Glória Pires). A princípio Elizabeth e Lota não se dão bem, mas logo se
apaixonam uma pela outra. É o início de um romance acompanhado bem de perto por
Mary, já que ela aceita a proposta de Lota para que adotem uma filha.
Esse projeto começou anos atrás, quando a sua mãe, Lucy,
comprou os direitos do livro Flores Raras e Banalíssimas,
de Carmem Lúcia de Oliveira. Mas como você se interessou pela história? Minha
mãe comprou os direitos em meados da década de 1990 e propôs o filme a mim e ao
Hector Babenco. Mas nenhum dos dois se interessou na época, eu nem li o livro.
Em 2004, minha ex-mulher (a atriz Amy Irving), fez Um
Porto para Elizabeth Bishop, monólogo da Marta Góes, nos Estados Unidos.
Comecei a achar interessante, fiquei ruminando aquela ideia. Não sabia ainda
para que contar a história. Em 2008, depois de Última Parada 174 e
de ter me divorciado da Amy – nada acontece por acaso –, vi que queria contar a
história porque falava da perda. Não é uma biografia. Lota e Elizabeth são
personagens dessa história de amor. Uma história em que a forte fica fraca
porque não sabe lidar com a perda, e a fraca, perdedora, vai ficando forte
porque lida melhor com isso. Grandes momentos de suas vidas ocorrem quando elas
estão juntas. Elizabeth ganha o Pulitzer, desabrocha como escritora, porque
teve estabilidade emocional e material. Não é por causa do Brasil. E a Lota tem
a ideia do parque do Flamengo (talvez a sua maior obra).
Crítica: Filme 'Flores Raras' é
corajoso, mas não tão arrojado como pede a trama
SÉRGIO ALPENDRE
"Flores
Raras", longa mais recente de Bruno Barreto, é baseado no romance real
entre a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares (Glória Pires) e a poetisa
norte-americana Elizabeth Bishop (Miranda Otto). Ambas moraram juntas em
Petrópolis, entre as décadas de 1950 e 1960.
Há um momento que é raro dentro do cinema comercial
brasileiro: quando Lota e Elizabeth voltam do passeio de carro no qual se
tornaram amantes. No exato instante em que o carro estaciona na entrada da casa
de Lota, a câmera faz um recuo inusitado para reenquadrar as duas na parte
esquerda da tela, enquanto na parte direita se encontra Mary, companheira de
Lota, sentada sozinha num sofá dentro da casa.
Esse tipo de movimento
da câmera destoa da sobriedade que o diretor Bruno Barreto impõe a seu filme,
mas ao mesmo tempo instaura um salutar respiro à narrativa, que até então
estava a um passo do academicismo. Vemos
a tela dividida entre o despertar de um romance e o ocaso de outro.
Um ocaso que, no
entanto, não significa a saída de Mary, pois Lota quer manter as duas por perto. O preço a pagar é a adoção de uma criança, desejo de
Mary com o qual Lota nunca havia concordado.
A tela dividida ainda
espelha outras divisões: vemos personagens situadas entre Estados Unidos e
Brasil; o compromisso e a liberdade; Petrópolis e a capital do Estado; a língua
inglesa e a portuguesa.
Vemos também uma
personagem, Lota, dividida entre o desejo carnal por Elizabeth e a segurança da
antiga relação com Mary. Esta é precisamente a mesma situação que vive a personagem
do melhor filme de Bruno Barreto, "Dona Flor e Seus Dois Maridos".
Ali também vemos uma mulher dividida entre a segurança e a carnalidade.
"Flores Raras" se apoia na brilhante
interpretação de Miranda Otto (que também está bela como nunca antes no cinema)
e revela uma certa coragem no retrato do triângulo feminino.
Infelizmente, essa coragem não se sustenta o filme todo,
pois Barreto é limitado pela segurança de um cinema de qualidade, baseado no
cálculo e na pompa, sobretudo na segunda metade, justamente quando a história
pedia algo mais arrojado, condizente com seu desassossego.
"Nunca me senti uma exilada, mas também nunca me senti exatamente em casa", disse a poeta ao "Christian Science Monitor", em 1978.
Bishop era uma crítica da desorganização do Brasil. Também dizia não entender o caráter pacato do povo. Em uma cena, ela comenta a passividade diante do golpe militar de 1964.
sua estada no Rio se prolongara porque ela teve de ser internada em um hospital, em consequência de uma reação alérgica a um caju
Maria Carlota de Macedo Soares
Urbanista e paisagista brasileira Lota de Macedo Soares (1910-1967)
"Lota era uma mulher extremamente masculinizada, mas feminina nos seus gostos. Enquanto trabalhava no aterro do Flamengo, fazia questão de almoçar com talheres de prata e porcelana inglesa", diz Glória Pires.
O retrato de Lacerda, aliás, é uma das maiores inconsistências históricas do enredo, edulcorando a figura do político, conspirador de primeira hora, quando governador da então Guanabara, a favor do golpe de 1964. Este e outros aspectos passam ao largo, atenuando-se o lado mais polêmico de Lacerda, apresentado como um intelectual tranquilo, que falava tão bem o inglês, além de um governador de visão, que chamou Lota para idealizar o Parque do Flamengo.
Neusa Barbosa,
do Cineweb
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